O mundo vive hoje ensombrado por dois conflitos de enormes proporções. De elevado empenhamento bélico e com consequências humanitárias arrasadoras. Na Europa e no Médio Oriente. Ambos dividem as opiniões e convocam estratégias de legitimidade. Como sempre. Em simultâneo na COP28 no Dubai, compatibilizam-se ideias e programas, ou melhor vontades, para desafiar o paradigma real das alterações climáticas. Também elas devastadoras à sua maneira e no seu tempo. São hoje vastas as narrativas de conflitos e desafios no complexo sistema internacional. E cada uma refém da sua virtude. A ordem internacional que vamos vivendo no nosso século, não pode prescindir dos principais atores internacionais (Estados e Organizações Internacionais) credíveis e empenhados na resolução dos grandes problemas que se colocam ao mundo em geral. E dos seus mecanismos de diplomacia política interventiva..No conflito do Médio Oriente, israelitas e palestinianos tornaram-se verdadeiros reféns em causa própria. Da conturbada geopolítica regional e em boa verdade da geografia e da história. São por isso longas e pautadas de razão as narrativas identitárias destes dois povos. Tão exacerbadas e heteróclitas que a sua sobrevivência se tem confundido quase sempre com a disputa, o ódio e as guerras (justas e injustas). Aqui a diplomacia tem sido ao longo de décadas, com raríssimas exceções, amiúde esquecida, vencida ou mesmo humilhada..A causa palestiniana foi desde o Plano de partilha da Palestina adotado pelas Nações Unidas em 29 de novembro de 1947 e a consequente criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948, sempre assumida como um fator de revolta e indignação pela narrativa árabe. Por isso, Israel continua refém, ainda nos dias de hoje, de uma ampla estratégia de hostilidade partilhada principalmente pelos Estados árabes e muçulmanos por todo o mundo. Apesar da grande rivalidade e disputa entre si, veja-se o caso de Marrocos com a Argélia, do Irão com a Arábia Saudita e outros Estados do Golfo, do Egito com a Turquia e tantos outros, a questão palestiniana é o grande denominador comum entre todos. Sobressai ainda, como um elemento político e estratégico de grande alcance no espaço mediático e na «rua árabe», sendo utilizada de forma sistemática nos fóruns internacionais e na abrangência da diplomacia política..Israel encontra-se refém da política regional expansionista do Irão, que através dos seus aliados diretos na Síria, na Líbia (Hezbollah), no Iémen (Houthis) e em Gaza o Hamas, partilham entre os seus objetivos prioritários a destruição do Estado de Israel. O Hezbollah é mesmo a grande ameaça à paz no território de Israel, pela sua crescente capacidade militar e pela sua postura agressiva, num Líbano desamparado e sem estruturas políticas credíveis. Um novo e trágico «07 de outubro» poderá sempre ocorrer lançado a partir do sul do rio Litani no Líbano..Os palestinianos e as suas inerentes políticas nacionalistas são também eles prisioneiros de todas estas perplexidades da geopolítica regional. Mas também pela reconhecida falta de uma liderança forte, unida e construtiva que represente e convoque os interesses do povo palestiniano. Já tinha sido esta a narrativa da história dos palestinianos, mesmo antes da criação do Estado hebraico. E, claro, prisioneiros das políticas de demarcação de Israel e da continuada expansão de colonatos na Cisjordânia, alimentada pelos partidos e coligações ultraortodoxas e de extrema-direita, atualmente muito representados no Knesset e no governo de coligação. Este é ainda, por agora, o tempo do Hamas: «...Mostrámos (em 7 de outubro) ao povo árabe e muçulmano, ao mundo, que Israel não é invencível e que não terá mais segurança, até perdurar a ocupação da Palestina» referia Ismail Haniya responsável máximo do Hamas numa recente entrevista à revista Limes. Mas o 7 de outubro será sempre relembrado como o momento da barbárie! E dificilmente a diplomacia política encontrará neste Hamas, qualquer vontade de contribuir para a paz na região..Perante esta realidade temos assistido não só por parte de alguns Estados e de potências regionais, mas também da ONU e outras organizações internacionais, à prática de uma diplomacia marcada também ela, pela lógica da vitimização e dos apelos. Da declamação de princípios gerais e da contextualização em modo relativo. Mas hoje exige-se uma diplomacia corajosa que contrarie a desilusão, a falta de esperança, o ódio e a vingança. Uma diplomacia política internacional, imparcial e com consequências, onde os EUA, pela razão do seu poder e da sua capacidade única de intervenção nesta região do Médio Oriente, sejam o elemento decisivo e motivador. Até pela ausência da Europa. Uma diplomacia partilhada que seja afirmativa, robusta e dotada de ambição. Para as diferentes narrativas. Para bem de «reféns e prisioneiros» deste nosso mundo. Deve ser assim nas guerras, nesta de Israel em particular, mas também nas próprias políticas climáticas..Coronel e especialista em geopolítica energética