As cidades sitiadas pelos rebeldes cujo destino está ligado a Aleppo

Cinco autocarros para retirar feridos de Foua e Kefraya, nas mãos do governo, foram incendiados e isso repercutiu-se mais a norte
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A evacuação dos últimos enclaves rebeldes em Aleppo estava ontem prestes a ser retomada, depois de ter estado dois dias suspensa para a renegociação do acordo que prevê a retirada paralela dos feridos de duas cidades que são controladas pelas forças governamentais sírias mas estão sitiadas pelas forças da oposição. Contudo não chegou a avançar. Tudo porque cinco autocarros que seguiam para Foua e Kefraya, na província rebelde de Idlib, foram incendiados num ataque que terá deixado milhares de pessoas mais uma noite à fome e ao frio enquanto esperam para sair da segunda maior cidade da Síria.

Vídeos partilhados nas redes sociais mostravam grupos de homens barbudos com armas a gritar "Alá é grande" depois de incendiarem os autocarros. A televisão estatal síria apontou o dedo aos "terroristas armados" (termo usado para referir grupos insurgentes que combatem o presidente Bashar al-Assad), com outras fontes pró-Damasco a apontarem o dedo à antiga Frente al-Nusra (ex-Al-Qaeda no Iraque). Os rebeldes culparam uma multidão de pessoas zangadas, apoiadas por "agentes" governamentais. O Exército Livre da Síria disse que o ataque foi perpetrado por indivíduos não afiliados a esta aliança opositora, falando num "ato imprudente".

Enquanto a televisão síria dizia que a evacuação de Aleppo tinha recomeçado, outras fontes indicavam que a caravana de veículos teria sido obrigada a voltar para trás. No último enclave rebelde, civis e combatentes dormiram de sábado para domingo ao frio (temperaturas de seis graus negativos), alimentando-se à base de tâmaras, à espera do retomar das operações de evacuação. Ontem, depois de aparentemente ter sido negociado um novo acordo, aguardavam dentro dos autocarros até haver luz verde para sair - o incendiar dos autocarros que iriam retirar os feridos de Foua e Kefraya terá atrasado todo o processo.

Os destinos de Aleppo estão diretamente ligados aos destas duas cidades de maioria xiita, devido à troca por troca prevista no último acordo entre forças governamentais e rebeldes - que não se sabe se ainda estará em vigor. "Numa primeira etapa, metade das pessoas retidas em Aleppo sairão, paralelamente à retirada de 1250 pessoas de Foua", disse ontem à AFP um responsável rebelde, sob anonimato. Depois, "1250 outras pessoas de Kefraya sairão paralelamente a evacuação do resto de Aleppo", acrescentou. Finalmente, mais 1500 poderão sair de Foua e Kefraya mediante a saída do mesmo número de pessoas de Zabadani e Madaya, cidades rebeldes sitiadas pelas forças de Assad na região de Damasco.

Apesar de terem os destinos ligados, a situação é muito diferente em Aleppo e em Foua e Kefraya. Em meados de 2012, mais de um ano depois do início dos protestos contra o governo do presidente Bashar al-Assad (que desencadearam a guerra civil), a oposição assumiu o controlo de praticamente metade da segunda maior cidade da Síria. Uma ofensiva lançada a 15 de novembro, com o apoio da aviação russa, permitiu ao exército sírio e às milícias aliadas recuperarem o controlo de 90% do território que haviam perdido.

Enquanto a maior parte da zona leste da cidade está completamente destruída, por causa dos bombardeamentos, na zona controlada pelo governo a vida decorre normalmente. E a expulsão dos rebeldes e familiares das últimas áreas que controlavam, que dará a maior vitória a Assad desde o início da guerra, foi recebida com aplausos - as caravanas de veículos têm que cruzar as áreas governamentais ao deixar Aleppo. Junto ao antigo hotel Carlton e na Cidadela, joia da arquitetura militar islâmica da Idade Média, que chegou a estar nas mãos dos rebeldes, a Reuters fotografou este sábado várias pessoas descontraidamente a tirar selfies.

Foua e Kefraya estão desde março de 2015 cercadas pelos rebeldes sunitas da antiga Frente al-Nusra . Em janeiro, um acordo permitiu o levantamento temporário do cerco (implicava reciprocidade governamental em Zabadani e Madaya) e a entrada da ajuda da ONU em ambas as cidades, de 20 mil habitantes. Contudo, em outubro o acordo acabou por cair, deixando a população à mercê da distribuição de ajuda por via aérea. "As condições de vida em ambas as cidades mantiveram-se estáveis", lia-se no último relatório da Siege Watch (que faz o balanço de todas as cidades sitiadas na Síria), referente ao período entre agosto e outubro.

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