Cada vez mais valorizada pelo prestígio que confere, a arte continua a atrair novos compradores. É um mercado resiliente e que parece imune às tempestades financeiras, alturas em que a grande penalização do sistema bancário contrasta com o aumento dos negócios em arte. Considerado, tal como o ouro, um bom investimento, aqui acresce o prazer e o usufruto diário que proporciona..O objeto artístico comporta-se como património cultural e como mercadoria. Neste contexto é um ativo seguro, não se identificando como um artigo de consumo, mas sim como um bem requintado, que nos dá prazer e enriquecimento cultural..Existem três tipos de mercado: o de arte decorativa, em que a aquisição depende unicamente do gosto pessoal, à semelhança de outros bens correntes de consumo, sem qualquer preocupação na valorização; o de arte "antiga" e antiguidades, com uma rentabilidade segura e razoável; e o de arte "contemporânea", mais especulativo e de maior risco, mas suscetível de gerar lucros elevados..O crescimento de rendimento per capita tem estimulado o consumo de bens de luxo, onde a arte se inclui. Segundo a The European Fine Art Foundation (TEFAF), o grande incremento das vendas em 2018 traduziu-se sobretudo nas artes contemporânea (43%) e moderna (30%)..Num relatório da Art Basel, entre 2008-2018 houve um crescimento anual de 9%, atingindo 67 mil milhões de euros em 2018 e ultrapassando atualmente os 80 mil milhões. A China, a Inglaterra e os EUA lideram, sendo de realçar que Portugal tem um comportamento melhor do que países como a Bélgica, a Alemanha ou a Itália..Segundo a Art Market Research, a arte contemporânea teve uma rentabilidade média de 12,4% na última década, superando o mercado emergente, o das matérias-primas e o mercado obrigacionista. Diz-nos a JP Morgan que quando a inflação sobe, os investimentos em arte crescem 18%, em matérias-primas 12%, em títulos 5% e em ações 2%, sendo o mercado da arte o que mais rapidamente recupera..O crescimento do setor da arte e a sua atratividade estão ainda relacionados com a elevada liquidez, que, tal como com o mercado acionista, segue a lei da oferta e da procura. É uma aplicação segura, sem grande volatilidade e incerteza. A baixa correlação com os ativos tradicionais permite ainda uma excelente diversificação de carteiras e melhor rentabilidade global a longo prazo..Há quem considere o mercado da arte imprevisível, dependente de "tendências" e de valor aleatório. Os valores de mercado têm, no entanto, pouca variação desde que sujeitos a gestão profissional: o grande número de participantes, a informação especializada, e por vezes escassa, e alguma falta de transparência assim exigem..Tal como se recorre a um gestor financeiro para gerir ativos, é essencial um bom consultor de arte para garantir um retorno adequado..Os investimentos em antiguidades e em artistas clássicos têm uma rentabilidade menor, mas mais segura a longo prazo. A menor procura atual e os preços menos especulativos podem gerar negócios apetecíveis com boa rentabilidade futura..O interesse pelos diferentes tipos de arte vai variando ao longo dos anos, e deve ser um ponto de reflexão. Baseado na minha experiência, não só pela especulação mas também pelas mudanças cíclicas de gosto, poderá haver em breve alguma saturação no mercado de arte contemporânea com maior revalorização de obras mais tradicionais e antiguidades.. Antiquário, colecionador e médico