Arte contemporânea abre "janelas" para Portugal

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Para quem está habituado às vernissages ocidentais, com canapés e música ambiente, a inauguração das "Paisagens Portuguesas Contemporâneas", na segunda-feira à noite, no Centro Al- -Faisaliah, em Riade, foi tudo menos normal. Montadas em painéis vermelhos e verdes, que imitam toscamente a bandeira nacional, as cerca de 60 obras de 22 artistas portugueses de várias gerações estão como que escondidas atrás de um grande palco, onde decorreu a entrega anual do prestigiado King Faisal Prize.

É ali, numa área rectangular tão comprida quanto estreita, que poderão ser vistas por apenas um dia. "É evidente que gostaríamos que a exposição ficasse mais tempo e estávamos preparados para a deixar aqui dois meses", garantiu a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, "mas temos que perceber que eles têm outros hábitos culturais".

Essa diferença foi evidente no modo como o príncipe herdeiro e primeiro-ministro, Sultan ibn Abd al- -Aziz al-Saud, inaugurou a mostra. Depois de cortar uma fita verde, por entre os flashes dos repórteres oficiais, cumprimentou os principais elementos da comitiva portuguesa e percorreu num carrinho de golfe, com Isabel Pires de Lima ao lado, a exposição de uma ponta à outra, mas sem ver os quadros, ocultos atrás de uma multidão de assessores, membros da Casa Real e jornalistas. Depois, tão depressa quanto tinha aparecido, desapareceu no gigantesco salão contíguo, onde alguns dos 1200 convidados ainda jantavam.

Segundo Anthony Bailey, presidente da Painting & Patronage (que levou a exposição até Riade), a presença da segunda figura do Estado num acontecimento destes é um facto raríssimo e com profundas implicações políticas. "É sinal de que há vontade de estabelecer pontes efectivas entre os dois países. Portugal ficou no mapa dos interesses sauditas. É uma oportunidade fantástica que não se pode desperdiçar."

Embora se tenha instalado no país apenas há duas semanas, o novo embaixador português em Riade, Aristides Vieira Gonçalves, partilha do optimismo de Bailey: "Esta inauguração coincide com um momento de gradual abertura do regime. Cabe-nos agora aproveitar as janelas que se abrem." Já o arquitecto Ricardo Miranda, responsável pela montagem, realça o facto de esta ser a primeira exposição de arte internacional vista em Riade desde o ano 2000, quando o príncipe Carlos de Inglaterra mostrou aqui os seus quadros, também ao abrigo do programa Painting & Patronage, dirigido por Khalid al--Faisal. O príncipe, que é pintor nas horas vagas, fez questão de dar duas voltas à exposição, revelando a Isabel Pires de Lima o seu entusiasmo com a qualidade das obras dos artistas portugueses.

Também presente na inauguração, Miguel Horta e Costa viajou para Riade a convite pessoal do príncipe Khalid, cuja exposição em Sintra (2005) patrocinou quando ainda era presidente da Portugal Telecom. Agora representando o Banco Espírito Santo, o empresário aproveitou a "aproximação através da arte" entre os dois países para fortalecer laços económicos. Foi assinado um protocolo com o príncipe Bandar bin Sultan bin Abdulaziz Al-Saud que pode vir a gerar significativos investimentos sauditas em Portugal. E de que ordem de grandeza serão esses investimentos? Horta e Costa, para já, prefere não revelar. |

*O DN viaja a convite do Ministério da Cultura

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