Art Dunk: desporto e arte contra o desperdício

A Liga Betclic e a Underdogs criaram um projeto para reabilitação de bolas e campos de basquetebol. 12 artistas foram desafiados a fazer obras de arte com 24 bolas.
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No atelier do artista italiano Filippo Fiumani estão duas bolas de basquetebol no meio das duas diferentes peças feitas de plástico, lixo, fotografia e tecnologia. As duas bolas, uma colorida e outra a branco e preto , são o resultado do desafio do projeto Art Dunk. Onde a arte junta-se ao desporto pela solidariedade e no combate ao desperdício. O projecto Art Dunk foi criado pela Liga Betclic [liga profissional de basquetebol] em conjunto com plataforma cultural Underdogs - que gere várias atividades artísticas com artistas portugueses. Por ano, centenas de bolas são deitadas para lixo pelas ligas femininas e masculinas de basquet. Para combater parte desse desperdício, doze artistas foram desafiados a transformar 24 bolas em obras de arte.

"Criamos um projeto, onde convidamos os artistas a aproveitar estas bolas. Ao mesmo tempo criamos uma economia circular em que a venda posterior das bolas, intervencionadas pelos artistas, podem gerar recursos para os campos [de basquetebol] do projeto ", explicou Miguel Domingues, responsável pela Betclic, em conversa com o DN.

As duas peças de Filippo Fiumani representam duas abordagens do artista na sua ligação com este desporto. Com desenhos de diferentes caras, frases e um led cor-de-rosa. A bola mais colorida intitula-se de Basket is not Dead , inspirada na frase Punk is not Dead. Fiumani começou a jogar basquetebol e andar de skate quando tinha 13 anos. "Dois desportos de rua que e comunicam muito bem. Traziam felicidade e, por isso, durante o processo de fazer a bola que eu imaginei como luz", disse o artista também em conversa com o DN.

A outra bola, a preto e branco, tem o título de eyeball etem inserida um ecrã de 7 polegadas, com um mini computador, mostrando um olho a abrir e a fechar. Uma bola que esconde um simbolismo: "É uma bola onde o jogo só acontece se tiver outra pessoa presente. Obviamente que podemos estar a atirar a bola ao cesto durante dias e dias, mas não é a mesma coisa do que estarmos a jogar um com o outro".

As peças demonstram também aspetos autobiográficos do artista como palavras que ligam à sua infância no basquetebol, como as palavras "senza testa" em italiano que significam "sem cabeça" .

Para Filippo Fiumani, o maior desafio foi a programação com o microcomputador na bola preta. Todas peças do artistas incluem uma parte mais tecnológica e outra mais artística. "Faço dois universos: um mais racional e depois o outro, a pintura. Digo sempre que a pintura é quase como uma terapia para canalizar energias e emoções de forma livre e depois há esse lado muito prático e racional de construção", disse.

Já Joana Rodrigues, conhecida como Pitanga, também participou no projeto e desconstruiu uma das bolas numa tela e pintou a outra. Inicialmente, queria tornar uma das bolas num acessório como uma mala, bolsa ou sapatos, mas a ideia de ascensão trocou-lhe as voltas. O movimento da bola até chegar ao cesto foi o que inspirou o quadro. Como materiais utilizou tinta spray, tinta acrílica, cola e marcadores. "O que quero transmitir é que a bola se desconstrói mas transforma-se na figura humana. Portanto aqui a mensagem que eu quero passar é da importância da união", diz a artista em conversa com DN no seu atelier.

Joana Rodrigues já tinha relacionado a arte com o desporto, pintando e revitalizando campos de basquetebol. A relação com este desporto sempre esteve presente na vida da artista com os vários amigos e colegas que o jogavam. Para a artista, projetos como este estão ajudar a trazer de volta o basquetebol à rua.

Neste desafio, as maiores dificuldades que Pitanga se deparou foi desconstruir e pintar na bola. "Quando cortei a primeira bola, podia não correr tão bem. Depois de cortar já não era reversível. O material foi também uma dificuldade porque nunca tinha trabalhado numa bola de basquetebol e não sabia bem como é que a tinta se ia comportar", explicou.

Hoje, na gala da Liga Betclic, as peças dos doze artistas vão ser vendidas, depois da atribuição de prémios da Liga. A receita vai reverter na totalidade, para a requalificação de vários campos de basquetebol público.

mariana.goncalves@dn.pt

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