"Aquilo que fazemos é verificar requisitos". O trabalho da empresa portuguesa que vai ajudar a pôr o Homem na Lua

Recrutada pela Agência Espacial Europeia em 2021, a Critical Software tem um papel importante em garantir que não há falhas e que os módulos são funcionais. "O processo é longo", diz Rodrigo Pascoal, e deve terminar "lá para 2025".
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O objetivo é claro: dar condições a astronautas para que habitem na órbita lunar por um período máximo de 90 dias. Algo que deverá acontecer, o mais tardar, até 2027. A expectativa é que em 2026 já seja possível garantir estas condições.

Mas como? Rodrigo Pascoal, gestor de desenvolvimento de negócio da Critical Software, explica: "Aquilo que fazemos é verificar requisitos, de design, de código, e depois fazemos uma validação final de acordo com certos requisitos específicos."

À primeira vista, parece ser algo que, além de complexo, é muito abstrato, mas tem aplicações práticas. Tão práticas, aliás, que a empresa encontra-se neste momento a colaborar na nave espacial Gateway, da Agência Espacial Europeia (ESA, do inglês European Space Agency), que vai colocar astronautas na órbita lunar nos próximos anos.

Criada em 1998 por três estudantes de Doutoramento, a Critical Software já foi recrutada pela ESA para outros projetos. Um dos quais, por exemplo, pretende que, em 2025, se vá ao Espaço e traga para a Terra uma peça com 112 quilos e dois metros de diâmetro e 1,6 metros de altura. Será o primeiro passo para remover partes do lixo espacial que orbita à volta do nosso planeta. Neste caso específico, também outra empresa nacional, a Demios, foi contratada pela Agência Espacial Europeia.

Mas, no caso do projeto Gateway, a nave ficará mais longe da Terra do que a atual Estação Espacial (que está a uma distância média de 400 quilómetros) e servirá, no futuro, como um ponto de paragem e abastecimento para missões à Lua e, até, a Marte.

Depois disso, refere Rodrigo Pascoal, "ficará numa órbita elíptica", para permitir que o módulo se afaste e se aproxime da superfície lunar, para permitir a recolha de astronautas e abastecimento. E é precisamente para garantir as condições dos astronautas em órbita que a empresa Thales Alenia Space contratou a Critical Software. "Somos os autores do novo manual de Independent Verification and Validation (Verificação e Validação Independente) de software e é nesse campo de atuação que somos reconhecidos e nos pedem para trabalhar."

No fundo, aquilo que a empresa faz é injetar, de forma propositada, falhas de software num sistema, como erros, para garantir que o funcionamento da estrutura é pleno, aprimorando assim a qualidade do teste e assegurando que não existem lacunas. É, se quisermos, um teste de stress feito ao sistema. Tudo isto, claro, sempre de acordo com regras pré-estabelecidas pelas normas da Agência Espacial Europeia.

O processo, explica Rodrigo Pascoal, é feito por várias fases e em partes concretas do sistema. "Tens uma parte de uma nave em que há uma arquitetura de software, que tem várias partes com objetivos concretos, como o software de voo ou para a propulsão. São vários componentes", explica. Tal "como noutras engenharias, no contexto da indústria espacial, estes são componentes que têm várias partes: de requisitos, design, implementação, inspeção e, por fim, de validação e aceitação", acrescenta o responsável.

Ou seja: "O que acontece é que, em cada uma destas fases, o nosso papel é fazer verificação. Quando se está na fase de requisitos, o nosso papel é esse, fazer verificação de requisitos." Isto tudo, explica Rodrigo Pascoal, não é feito de forma automática, "existem ferramentas, mas há coisas que é preciso fazer". "Não é uma máquina de salsichas, digamos assim", conclui.

No contexto específico da nave Gateway (que é construída com contribuições de várias agências, como a NASA e a JAXA, do Japão), o trabalho da Critical Software foca-se, sobretudo, no módulo I-HAB, que os astronautas vão habitar. Contudo, "as coisas correm tão bem" que, já esta semana, a empresa foi contratada para garantir, também, "o funcionamento de mais um módulo feito pela Thales Alenia, o Esprit".

Este processo, conclui Rodrigo Pascoal, "é longo". "O contrato começou nos últimos meses de 2021 e, não querendo mentir, acho que lá para 2025 terminará o nosso papel, se isto não correr mal", afirma.

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