Após exigência surpresa da manhã, Erdogan desbloqueia à noite adesão da Suécia à NATO

Antes de ir para Vilníus, líder turco fazia depender adesão sueca de avanços na entrada da Turquia na UE. Ao final do dia, anunciou o envio do processo para ratificação no Parlamento.
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O secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, anunciou esta segunda-feira que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, desbloqueou o processo de adesão da Suécia à NATO. O avanço surgiu ao princípio da noite, depois de durante a manhã o líder turco ter feito depender a luz verde de Ancara de um avanço na adesão da Turquia à União Europeia. Com este obstáculo de lado, os chefes de Estado ou de governo dos países da NATO podem dedicar-se esta terça e quarta-feira, durante a cimeira em Vílnius, capital da Lituânia, no apoio à Ucrânia.

"Estamos a trabalhar arduamente para que a Suécia se torne membro o mais rapidamente possível", tinha dito Stoltenberg, convicto que a derradeira discussão "com o presidente Erdogan e o primeiro-ministro [Ulf] Kristersson", esta noite, antes da cimeira, lhe permitia algum otimismo. "Ainda é possível tomar uma decisão positiva sobre a adesão da Suécia aqui em Vílnius", referiu, embora admitisse não ter "certezas, nem garantias". Esse otimismo era afinal válido, com Erdogan a aceitar enviar o mais rapidamente possível o processo de adesão sueca para ratificação no Parlamento turco.

A reviravolta surgiu 12 horas depois de, antes de entrar no avião para Vílnius, Erdogan ter arrefecido as expectativas com uma declaração surpresa. "Primeiro, abram o caminho para a Turquia ser membro da União Europeia e depois nós vamos abri-lo para a Suécia, tal como abrimos para a Finlândia." Já na Lituânia, reuniu com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tendo ambos concordado em "revitalizar as relações" entre Ancara e Bruxelas.

O secretário-geral da NATO tinha dado a entender que a adesão da Turquia à União Europeia e da Suécia à NATO deviam manter-se como processos separados. "Apoio as ambições da Turquia de se tornar membro da União Europeia", assumiu o secretário-geral, salientando que "ao mesmo tempo", é preciso ter em conta "o que acordámos em Madrid".

Na cimeira de Madrid foi assinado um memorando com "uma lista específica de condições que a Suécia tem de cumprir para se tornar membro de pleno direito da aliança", lembrou Stoltenberg, vincando que "a Suécia cumpriu essas condições".

O primeiro-ministro português, António Costa também não alinhava na ideia de vincular os dois processos de adesão, dizendo que "são dois temas diversos". E considerava que a Suécia preenchia todas as condições. "Apresentou o pedido em simultâneo com a Finlândia, que felizmente, já é hoje parte integrante da NATO", afirmou Costa, em Šiauliai, "a base que deve ser das primeiras missões onde a Finlândia participa enquanto aliado [e] esperemos que a Suécia, que preenche todas as condições, também rapidamente possa aderir".

Essa era também a expectativa do ministro dos Negócios Estrangeiros da Suécia, Tobias Billström que em declaração ao DN e à TSF, durante a manhã expressou "a convicção" de que a Turquia levantasse todas as objeções, esperando "uma resposta positiva ainda na cimeira de Vílnius", de modo a que o processo de ratificação "possa arrancar assim que a cimeira estiver terminada".

Do lado de Estocolmo, as negociações estavam finalizadas. "Cumprimos todos os compromissos que assumimos e, portanto, também cumprimos as promessas que fizemos em Madrid, de levar a sério os problemas de segurança da Turquia", sublinhou, dando exemplos demonstrativos da atuação das autoridades de Estocolmo, face às preocupações de segurança turcas.

"Tivemos o veredicto do tribunal na Suécia em que uma pessoa pertencente ao PKK foi condenada a quatro anos e meio de prisão e a ser extraditada", especificou o ministro, para quem este exemplo, "é um claro sinal de que a Suécia está a levar muito a sério os problemas de segurança em relação ao PKK".

Esta posição era corroborada pelo secretário-geral da NATO, que considera "importante" que sejam tidas em conta as preocupações de Ancara, mas "é igualmente importante que respondamos às legítimas preocupações de segurança de todos os aliados que desejam ver a Suécia como membro da aliança o mais rapidamente possível, porque isso reforçará a NATO e reforçará a nossa capacidade de defesa e proteção, nomeadamente da região do Báltico".

Na véspera da Cimeira, António Costa visitou a base de Šiauliai, na Lituânia, onde estão estacionados os caças F-16 da Força Aérea Portuguesa. O primeiro-ministro destacou a importância da missão, numa altura em que "a realidade da segurança à escala global e à escala europeia se alterou profundamente".

"Poucos locais haverá onde é mais percetível essa mudança do que precisamente aqui nesta fronteira leste da nossa aliança defensiva que é a NATO", sublinhou, considerando que "cada contributo que nós damos para a segurança dos outros é a garantia que todos os outros darão contributo para a nossa segurança sempre que ela estiver ameaçada".

Com Susana Salvador

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