Após a festa, a "catástrofe humanitária" em Kherson

Chefe da diplomacia ucraniana lembra que "a guerra continua". Russos, que ainda ocupam cerca de 70% da região, já designaram uma outra "capital provisória", Henichesk.
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Os ucranianos festejaram durante a noite a libertação da cidade de Kherson, após oito meses de ocupação russa, dançando em redor de uma fogueira e entoando a canção patriótica Chervona Kalyna, segundo os vídeos partilhados pelos militares de Kiev. Mas depois da festa, é preciso enfrentar a realidade da "catástrofe humanitária", segundo as autoridades locais. Além disso, o chefe da diplomacia, Dmitro Kuleba, lembrou que "a guerra continua". Os russos, que ainda controlam cerca de 70% da região, já designaram uma nova capital "provisória" - Henichesk, que fica cerca de 200 km a sul.

Um conselheiro do presidente da câmara de Kherson, Roman Holovnya, falou da "catástrofe humanitária" na televisão ucraniana - que já voltou a emitir a partir da cidade. Falta água, alimentos e medicamentos naquela que foi a única capital regional a cair às mãos dos russos, logo nos primeiros dias da invasão a 24 de fevereiro. A ajuda humanitária e os abastecimentos já estarão contudo a chegar desde a região vizinha de Mykolaiv.

Entretanto, o chefe da polícia ucraniana, Igor Klymenko, indicou que 200 agentes já estão na cidade, tendo erguido vários postos de controlo - os Serviços de Informação ucranianos acreditam que muitos soldados russos podem ter ficado, abandonando os uniformes e vestindo roupas civis para passarem despercebidos. Klymenko alertou ainda para a presença de minas, tendo um polícia ficado ferido na desminagem de um edifício administrativo. Uma mulher e duas crianças também ficaram feridas na explosão de outro engenho, perto do carro em que seguiam na aldeia de Mylove.

Os agentes vão também começar a fazer o levantamento dos "crimes dos ocupantes russos". À semelhança do que aconteceu em Bucha, nos arredores de Kiev, ou Izium, na região de Kharkiv, que também estiveram sob ocupação russa, teme-se a descoberta de valas comuns e outras atrocidades agora que as forças de Moscovo recuaram para a margem oriental do rio Dniepre.

Os ocupantes escolheram uma cidade portuária no mar de Azov, Henichesk (Genichesk na transliteração do nome russo da cidade ucraniana), como capital provisória da região - uma das que foi anexada ilegalmente por Moscovo após os referendos de setembro. "Todos os organismos governamentais localizam-se lá agora", disse o porta-voz da administração pró-russa, Alexander Fomin.

"Todos nós sentimos a euforia juntos", disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Telegram, questionando se haverá alguém que não viu o vídeo dos habitantes de Kherson a acolherem os militares ucranianos. "Veremos muitas outras reuniões deste tipo. Nas cidades e aldeias que ainda estão sob ocupação. Não nos esquecemos de ninguém, não vamos deixar ninguém para trás. Será o mesmo em Henichesk e Melitopol", referiu, incluindo a região do Donbass ou a Crimeia. "Haverá centenas de bandeiras da Ucrânia nas ruas no dia da libertação", garantiu.

Kuleba, que esteve com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, no Camboja (à margem da Cimeira das Nações do Sudeste Asiático), defendeu que o Ocidente caminha para uma "vitória conjunta", após a retirada das tropas russas de Kherson. "Muito poucos acreditavam que a Ucrânia sobreviveria", indicou. "Está a acontecer e a nossa vitória será uma vitória conjunta, uma vitória de todas as nações amantes da paz por todo o mundo", acrescentou.

Washington saudou a "vitória extraordinária" dos ucranianos, enquanto Londres reiterou que a retirada dos russos marca "um novo fracasso estratégico" por parte de Moscovo. "O Reino Unido e a comunidade internacional vão continuar a apoiar [os ucranianos] e, embora a retirada seja bem-vinda, ninguém subestimará a ameaça que a Rússia representa", indicou o ministro da Defesa, Ben Wallace.

susana.f.salvador@dn.pt

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