Apocalípticos e integrados (2)

Publicado a
Atualizado a

Os dados recentemente divulgados - paralelamente com o crescente acesso à música via Internet, em detrimento do su-porte gravado - têm igualmente expressão num menor consumo de jornais em benefício do acesso à informação da Net, nomeadamente entre público mais jovem.

O facto de esta utilização da Net ser feita através dos sites da própria imprensa não altera substancialmente os dados do problema - de certa forma tende a torná-los mais preocupantes.

Um jornal não é apenas uma soma de textos, a sua capacidade informativa não se esgota na leitura daqueles: a componente gráfica é também informativamente relevante. A questão não reside na utilização de elementos gráficos (fotos, infogramas, cartoons), também susceptíveis de inclusão e consulta informática. O problema tem a ver com a capacidade informativa contida na pa-ginação jornalística, o equilíbrio relativo en-tre as matérias e os textos, a sua arrumação narrativa ao longo do jornal. A transposição do conteúdo jornalístico para a Net tem como consequência o tornar o discurso jornalístico monocórdico, apresentado sempre no mesmo tom, sem tratamento nem equilíbrios relativos criteriosamente definidos.

Isto não significa que o discurso via Net seja inevitavelmente monocórdico. Crescen-temente se afirmam potencialidades do grafismo informático, mas a questão é que esse aspecto formal incide igualmente na organização de conteúdos: a pura transposição do discurso jornalístico impresso para o su-porte computador empobrece-o dramaticamente.

O problema não se coloca apenas na re-dução da capacidade informativa, mas numa redução da habituação, da aprendizagem de uma linguagem plástica rica, subtil, portanto, susceptível de melhor aproveitamento por parte do leitor, susceptível de o dotar não apenas com capacidade de leitura alfabética mas também plástica, relacionante e com valores estéticos relevantes.

Economicamente, os jornais de todo o mundo têm respondido à concorrência da Rede mediante a criação de sites e limitação do seu acesso a assinantes; de forma idêntica, as editoras discográficas procuram responder com o controlo dos sites susceptíveis de download.

É uma resposta insuficiente do ponto de vista cultural.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt