Antigo oficial da ONU condenado a 16 anos por abuso sexual de menores
Peter John Dalglish, de 62 anos, tem um longo histórico de ações humanitárias nas Nações Unidas (ONU), ocupando cargos relevantes na organização como o de chefe da ONU-Habitat no Afeganistão. O ex-funcionário humanitário do Canadá foi esta segunda-feira condenado por abusar sexualmente de dois rapazes menores no Nepal, segundo a agência France Presse.
De acordo com um funcionário do tribunal distrital, Dalglish foi condenado a nove anos por abusar sexualmente de um menino de 12 anos e a mais sete anos de prisão por molestar uma criança de 14.
O canadiano tinha sido detido em abril de 2018 pelo Escritório Central de Investigação do Nepal, no distrito de Kavrepalanchok, numa casa onde também se encontravam as duas crianças. O antigo oficial da ONU negou imediatamente as acusações, mas o Tribunal Regional de Kavre decidiu-se pela sua condenação.
"O juiz ainda deve decidir se vai cumprir um total de 16 anos de prisão ou se vai ser libertado depois de nove anos. Na maioria dos casos de natureza semelhante, as sentenças são sobrepostas, mas cabe ao juiz decidir ", disse Thakur Trital, funcionário do tribunal distrital. Além da pena de prisão, Peter Dalglish terá de pagar uma indemnização de 500 mil rupias nepalesas (o equivalente a cerca de 4 mil euros) a cada uma das vítimas.
A defesa de Dalglish já fez saber que vai recorrer da decisão.
Em 2016, o antigo oficial da ONU foi condecorado com a Ordem do Canadá pelo trabalho que realizou na defesa das crianças de rua, trabalhadoras e afetadas pela guerra. Dalglish foi um dos fundadores da Street Kids International, em 1998, que se fundiu com a Save the Children.
Trabalhou durante décadas em várias organizações humanitárias, incluindo a ONU-Habitat no Afeganistão e a missão das Nações Unidas para a resposta de emergência ao ébola na Libéria.
De acordo com o chefe da investigação Pushkar Karki, o canadiano atraía crianças de famílias pobres com promessas de educação, trabalho e viagens com o objetivo e ganhar a confiança dos menores para depois praticar os abusos sexuais.
Ao New York Times, Karki afirmou que outros estrangeiros foram detidos no Nepal por suspeitas de pedofilia. "Há casos em que eles foram encontrados a trabalhar em instituições de caridade", referiu. "As nossas leis não são tão rígidas como em países estrangeiros e não há escrutínio social como nos países desenvolvidos"
Nader Hasan, advogado de defesa de Dalglish, tem outra visão do que aconteceu durante a investigação e no julgamento. "Foi como assistir a uma condenação injusta em tempo real", lamentou.
A defesa acusa os investigadores de táticas de intimidação junto dos rapazes para que estes testemunhassem contra o canadiano. Os advogados de Dalglish argumentam que as alegadas vítimas deram várias versões das suas histórias e alturas diferentes.
Apesar da condenação, a família e os amigos continuam a apoiá-lo, garante Hasan.
De acordo com os representantes legais do antigo funcionário da ONU, o caso começou com rumores que surgiram numa escola na Tailândia, onde fez parte do conselho diretivo. A Interpol terá tido conhecimento, o que originou a investigação da polícia nepalesa.