Quando a democrata Nancy Pelosi, então líder da Câmara dos Representantes dos EUA, visitou Taiwan em agosto, a China lançou os maiores exercício militares de sempre em redor da ilha que considera uma província rebelde - e que não descarta recuperar pela força. Agora o cargo de speaker está nas mãos do republicano Kevin McCarthy, que hoje tem previsto um encontro com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, durante uma escala que ela irá fazer na Califórnia após visitar dois países aliados na América Central..Pequim é contra a reunião e alertou os EUA contra a repetição de "erros desastrosos do passado", numa referência à visita de Pelosi, prometendo defender a sua soberania. Avisou ainda que o facto de a terceira figura do Estado norte-americana - depois do presidente Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris - receber Tsai não ajuda à "paz regional, segurança ou estabilidade", além de não ser do interesse quer do povo da China como do dos EUA..Segundo um comunicado do consulado chinês em Los Angeles, o encontro só vai prejudicar ainda mais as relações entre os dois países. "Apenas fortalecerá a forte vontade e determinação do povo chinês de partilhar um inimigo comum e apoiar a unidade nacional", alegaram..Em Pequim, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, repetiu que só há uma China e que os chineses se "opõem fortemente a qualquer forma de interação oficial e contacto entre os EUA e as autoridades de Taiwan". Avisou ainda McCarthy contra o envio de sinais errados às "forças independentistas" e a possibilidade de prejudicar ainda mais as relações entre os dois países - tendo também criticado a o acordo que permite o acesso dos EUA a quatro novas bases nas Filipinas. "A China tomará medidas resolutas para salvaguardar a sua soberania e integridade territorial", acrescentou, sem dar mais pormenores..Mas as ameaças - e o aumento da presença militar no estreito que separa os dois países nos últimos dias - não parecem ter efeito. "O povo de Taiwan enfrenta ameaças e pressão constante do vizinho do outro lado do estreito de Taiwan", disse Tsai num discurso na segunda-feira, no Belize - um dos únicos 13 países com os quais tem relações diplomáticas..Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da ilha reiterou que as críticas da China "estão a tornar-se cada vez mais absurdas", lembrando que "mesmo que o governo autoritário continue a sua expansão e intensifique a coerção, Taiwan não vai desistir". A visita de Tsai à América Central, onde além do Belize visitou a Guatemala, surgiu depois de as Honduras terem decidido cortar os laços com a ilha e apostarem na relação com a China..Os EUA não têm relações diplomáticas com Taiwan desde 1979, mas continuam a ser o seu mais importante aliado e fornecedor de armas. Washington mantém a sua posição dúbia, mas o próprio Biden já foi em várias vezes pouco diplomático, chegando a dizer que os EUA responderiam "militarmente" no apoio à ilha caso a China recorra à força. Taiwan tornou-se no refúgio do presidente Chiang Kai-shek e restantes nacionalistas do Kuomintang derrotados pelos comunistas de Mao Tsé-tung, em 1949, mas Pequim considera que faz parte do seu território.."Taiwan, a República da China, é um país soberano e tem o direito à autodeterminação no desenvolvimento das suas relações com outros países", dizia o comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da ilha. "Não aceitamos a interferência ou repressão por parte de nenhum país por qualquer motivo e não vamos limitar as nossas escolhas devido a intimidações", acrescentava..McCarthy tinha inicialmente pensado repetir a viagem de Pelosi à ilha - e do republicano Newt Gringrich antes dela, em 1997 -, mas acabou por decidir encontrar-se antes com Tsai durante a sua passagem pelo país - numa espécie de compromisso que permitia apoiar Taiwan, mas evitar novas tensões com a China. Segundo o seu gabinete, está previsto um encontro bipartidário com a presidente na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, próximo de Los Angeles. O encontro será durante uma escala de Tsai na Califórnia, algo que os EUA dizem ser "comum", mas que Pequim considera "falsa", denunciando a preparação de um "espetáculo político"..susana.f.salvador@dn.pt