Água da rede pública com cheiro a fossa

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A origem da contaminação não foi encontrada

Maria Manuela Almeida, moradora no Azabucho, a pouco mais de cinco quilómetros da cidade de Leiria, continua a tirar água do poço para lavar a loiça e a mandar o filho buscar garrafões à fonte para cozinhar. "Banho? não podemos tomar porque saímos a cheirar muito pior do que antes de nos lavarmos", diz o filho, Cláudio Ferreira, de 25 anos.

E não são casos únicos, porque outros moradores se queixaram, ontem, do mesmo problema, ao DN, três dias depois da contaminação da água. Mas o médico responsável pela saúde pública no concelho, Rui Passadouro, diz que o perigo, por agora, "já passou" e que "a água que está a ser fornecida se encontra dentro dos parâmetros normais segundo os valores obtidos nas análises efectuadas".

Também o administrador-delegado dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Leiria, Mário Monteiro, garante que "a água é de qualidade", porque actuaram de imediato, isolando a zona afectada, e depois esvaziaram todo o sistema e desinfectaram-no antes de voltar a abastecer. O que acontece é que algumas das moradias daquele lugar dispõem de aquecimento central e a água passa por dentro das caldeiras, cujos sistemas os proprietários disseram ao DN que ficaram afectados. "Não era água, era esgoto", reforça Cláudio.

A mãe apercebeu-se que a água "cheirava a fossa e vinha castanha, quase preta, na segunda-feira, cerca das 11.00", e foi avisar as vizinhas "porque estava na hora de fazer o almoço". "Depois telefonei para os SMAS ", explica. Mas houve outros moradores a telefonar.

Belmira Monteiro só se apercebeu mais tarde. "Tinha acabado de fazer uma panela de sopa e não dei por nada a lavar a hortaliça", admira-se. Diz que "quando pôs a água na sopa também não viu nada", mas pouco depois já sentia o mau cheiro a sair da torneira. "Já não deixei o meu marido comer e a sopa, logo que arrefeceu, ficou azeda", explica.

Ninguém sabe, ou ninguém diz, no lugar, o que contaminou a água. No entanto as autoridades de saúde e o responsável pelos SMAS não têm dúvidas de que "alguém terá ligado um motor a um furo ou a um poço privado e por qualquer distracção não fechou a torneira que dá acesso à rede pública", ou o sistema "encontrava-se estragado", adianta Rui Passadouro.

A contaminação "teve de ser feita com um motor para que a água tivesse mais pressão que a da rede e entrasse", explicaram os técnicos ao DN. "O que não encontrámos foi a fonte", disseram. O médico recorda que "até há sistemas amovíveis, ainda mais difíceis de detectar".

Ambos julgam que "terá sido algum emigrante que chegou e ligou o sistema privado de abastecimento". Só que o poço ou furo em causa estaria cheio de água misturada com dejectos, ou mesmo apodrecida.

Rui Passadouro afirma que os SMAS podem fiscalizar estes sistemas, mas também diz que "as pessoas os escondem porque sabem que são ilegais". Reforça porém que "são um perigo em todo o País para a saúde pública, porque não existem só em Leiria".

O uso de abastecimento próprio é tão comum que, no passado mês de Junho, como o DN noticiou, num dos centros de saúde da cidade, o Gorjão Henriques, ficou com a água imprópria. Ali existia uma alavanca, um sistema primário feito por um canalizador, que servia para abrir a água não tratada, destinada à rega do jardim. Esta entrou na rede e atingiu até o laboratório do centro.

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