No exacto momento em que decidiu comunicar o adeus ao futebol, actividade que o ajudou a catapultar a sua imagem de estrela, Abel Xavier decidiu manter-se fiel ao seu carácter e… mudou de novo. Desta vez não foi de clube, nem de penteado, nem de projecto profissional. A mutação foi mais profunda: religiosa e espiritual. E foi consagrada numa cerimónia solene, realizada na semana de Natal, junto a vários ilustres membros da família real dos Emirados Árabes Unidos e na presença de um imã. Na conferência de imprensa que se seguiu, transmitida para vários países do golfo Pérsico, Xavier anunciou o testemunho de fé e despojou-se do primeiro nome, ou não fosse Abel demasiado bíblico, e adoptou uma designação mais consentânea com a sua nova religião. Ele agora é o muçulmano Faisal ("o decidido"), nome de antigo rei, aconselhado de Ahmed bin Saqr Al-Qasimi, irmão do príncipe regente do emirado de Ras al-Khaimah, que apadrinhou a sua conversão. "Ao contrário do que as aparências podem fazer supor, sempre tive hábitos rigorosos e vou respeitar as regras do islão… uma religião de paz, igualdade, liberdade e esperança", declarou à imprensa o ex-jogador, que agora pretende levar a cabo um projecto humanitário no continente africano. .Xavier, o 'globetrotter'.Abel ou Faisal, certo é que Xavier continua a ter o espírito do garoto que nasceu em Nampula, cresceu para o futebol na Reboleira e, depois ser campeão e patinho feio da massa adepta do Benfica, se fez trota-mundos, rumando aos maiores campeonatos europeus. A imagem do maior camaleão do futebol nacional manifestou-se, naturalmente, na sua carreira. Ele foi um verdadeiro globetrotter ao longo de quase 20 anos de carreira. E foram várias as paragens… Espanha, Itália, Holanda, Inglaterra, Turquia, Alemanha. O mesmo que dizer: Bari, Oviedo, PSV, Everton, Liverpool, Galatasaray, Hannover, Middlesbrough, Roma… A tudo isto seguiu-se uma aventura em Los Angeles. Seria impossível melhor poiso para um portento mediático como Xavier, paredes--meias com Hollywood, e logo com o super mediático Beckham como companheiro de equipa. Doze clubes e oito campeonatos volvidos, o pecúlio de títulos resumiu-se a um campeonato nacional pelo Benfica, em 1993/94, e a uma supertaça holandesa, em 1998/99..Na selecção, foram 20 jogos (2 golos) e duas participações em grandes competições internacionais, o Mundial 2002 e o Euro'2000, onde ficou famosa a sua mão, uma controvérsia que acabou por selar a eliminação portuguesa nas meias-finais da competição. Outro ponto baixo foi a suspensão por doping em 2005, por consumo de diabonol. .Então com 33 anos, Abel chegou a pensar no abandono da competição, algo que porém ainda estava longe. Porém, ele tinha de sair pela porta grande, depois de uma experiência nos Estados Unidos, e rodeado de todo o glamour que os petrodólares dos Emirados podem comprar.