1-A tradição nacional manda que os governos, numa primeira fase, desfaçam tudo aquilo que o anterior fez. Infelizmente, mais do que uma pacóvia forma de fazer política, prejudicial para as finanças e economia do País, é também, e muito prosaicamente, uma oportunidade de negócio. Se se arrasar com os "corruptos" e "mentirosos" no poder, acabando com os "delirantes e malignos" projetos em execução, de uma penada se satisfaz o pessoal do partido, se fala para os descontentes e se pisca o olho aos futuros novos fornecedores. .É assim há três décadas. .Não há, portanto, razão para surpresa no regresso do TGV, descontando a forma canhestra como os governantes se foram revezando na reabertura envergonhada do dossier. Mas atenção, note- -se bem: não é uma alta velocidade de passageiros, é só de mercadorias. E parte de Sines, ainda não de Lisboa. Lá chegaremos, pela bitola europeia, porque quem influenciava antes Sócrates também manda em Passos Coelho. Estando os assuntos nos carris devidos, Berlim lá aconselhará a empresa detentora da melhor tecnologia... E o que é válido para os comboios também será para o Aeroporto de Lisboa, essa outra grande obra que, neste preciso momento, não faz sentido....2-E, claro, não se confunda as Novas Oportunidades com o Impulso Jovem. Nem se pense que as energias renováveis devam ser uma aposta; ou que a relação do Estado com os cidadãos possa ser cada vez mais mediada pelo digital e que, por isso, um Plano Tecnológico faça sentido. Nada disso. Tudo tem sempre de ser diferente. E melhor, mesmo que seja o mesmo!, apenas com a diferença de serem outros parceiros a ganharem os concursos e outros ministros a terem a ideia, com uma luminosidade que faz, obviamente, toda a diferença. Se faz!.Nunca se esqueça que no plano de reabilitação das escolas terá havido uns escândalos ligados à Parque Escolar. Num país normal, se fosse verdade, reavaliar-se-iam os custos e meter-se-iam uns vigaristas, se os houvesse, na prisão. Por aqui, é de bom tom libertar informação a conta-gotas e arranjar um vendaval nos media. Com isso enganam-se os contribuintes e faz-se um conveniente intervalo para mais adiante regressar a mesma necessidade, agora sim com todo o sentido, e com novos e insuspeitos amigos ao leme de concursos imaculados e ganhos por gente finalmente séria..3-Passos Coelho tem feito pelo legado de José Sócrates o que o antigo primeiro-ministro nunca teria, sequer, ousado pedir. Um a um, do PEC IV, que era um esforço desmedido e oriundo de erros apenas nacionais (como se vê agora na Espanha na Itália, para não estarmos sempre a falar da Grécia...), à opção pelas "obras faraónicas", que parece só agora terem direito aos fundos europeus, há demasiados planos a lembrarem um filme de "série B"..Muitas coisas seriam terrivelmente normais se os governantes falassem ao País como se este não fosse habitado por seres diminuídos e incapazes de pensarem. Por exemplo, no que respeita às obras: "Neste momento (há ano e meio), temos outras necessidades, mas a construção do TGV e do novo aeroporto serão reabertas mal seja possível.".Porque será que continua a ser tão difícil falar, em cada momento, verdade aos portugueses? Que raio de maldição esta, governo após governo, primeiro-ministro após primeiro-ministro. E até quando?.A lei da limitação dos mandatos autárquicos não tem de ser interpretada pelo Parlamento, politicamente. Pois, pois... Tem de ir ao tribunal, para boa interpretação, e quanto mais depressa melhor.