A segunda vida de David Fonseca

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Diz-se melómano, "viciado em música", ainda que guarde espaço para outras paixões. Enquanto músico, admite que a sua "classe" preza o isolamento, mas admite que cultivar uma espécie de dupla personalidade é quase obrigatório. Com o novo disco, Dreams In Colours, David Fonseca procura desmontar o conceito de artista enquanto pessoa alienada. O passado deixa de ditar regras e permite uma maior proximidade com o presente.

"O dia-a-dia, a chamada 'normalidade', são momentos inspiradores." Resgatam-se pormenores ao provável esquecimento e escreve-se um disco, como uma vida paralela. Não foi sempre este o território predilecto de David Fonseca? "Sim, mas estas canções descrevem-me o que sou, de facto, como nunca até aqui."

David Fonseca não sabe que imagem projecta junto de quem o ouve. Acredita que sejam várias, distintas e contraditórias. "Dependem da idade de quem me vê e ouve", afirma consciente dos efeitos do estrelato. "Tresloucado ou tímido, posso ser qualquer um", confessa. Mas não se esconde atrás de guitarras e pianos. Ainda adolescente? "Talvez", mas com o que a inconstância tem de melhor. Criativamente, claro está. Partilha o que sente como essencial mas apenas quando o importante é a sua música. Quer saber como a imagem influencia o que se ouve. Então, estuda tudo: "Desde as fotos aos telediscos, passando pelas capas dos álbuns, cada imagem desvenda mais um detalhe."

Antes da edição do álbum, partilhou momentos com os fãs. Colocou webisódios online e revelou pormenores da construção de um disco. Porque "é preciso despertar atracção pelo objecto artístico". Da mesma forma, coloca o disco à venda através de download para telemóvel. A tecnologia pode assustar mas assume uma obrigação: "não posso ficar atrás do passar do tempo."

As confissões que levou para a Internet transportou-as para as canções. Fala-nos de como a música pop consegue ser abstracta e, ao mesmo tempo, "tradução perfeita para quase tudo". Não que a canção se deixe construir através do desconhecido. "Sou muito céptico quanto à teoria 'zen' de que a inspiração é como uma luz que desce sobre o músico", diz-nos. A sua fé está com o erro: "Falhar é como entrar numa estrada sem saída para descobrir o caminho correcto." E para Dreams In Colour desenhou um mapa através dos erros, mas "luminoso como nunca". Canta versos sobre relações, boas e erradas. Sobre a memória e a sua projecção no futuro. E mantém antigos traços característicos: "Ainda tenho dúvidas, na música e na minha vida pessoal. A experiência nem sempre é tudo, até porque traz sempre novidades." Mas não cultiva receios. Prefere a incerteza, o desconhecido, tal e qual canta em Rocket Man, versão do tema de Elton John. "A ideia de que 'em casa não sou o homem que pensam'. Construir uma segunda pele, sermos maiores do que a realidade. É fascinante."|

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