A resistência da cruz face à progressão do crescente

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Com quase dois mil milhões de crentes, o cristianismo é actualmente a religião mais difundida, em termos númericos e também geográficos. O islão, com 1,2 mil milhões de fiéis, surge depois como a segunda religião mais seguida e destaca-se, sobretudo, por ser aquela que regista maior ritmo de crescimento hoje em dia.

Metade dos cristãos pertencem à Igreja Católica, que tem como chefe espiritual o bispo de Roma, herdeiro de São Pedro, que ostenta também o título de Papa. As duas outras grandes correntes cristãs são a ortodoxia, que se separou de Roma aquando do Grande Cisma de 1054, e o protestantismo, cujas origens remontam à rebelião no século XVI do monge alemão Martinho Lutero contra o Vaticano. No mesmo século, a revolta de Henrique VIII de Inglaterra contra o papado beneficiou o surgimento e plenas ilhas britânicas de uma outra forte corrente protestante, o denominado anglicanismo.

Durante o quarto de século que durou o pontificado de João Paulo II o número de católicos no mundo terá aumentado entre 300 a 400 milhões. Uma elevada progressão devida sobretudo à forte natalidade na América Latina e nas Filipinas, antigas terras de colonização espanhola e até hoje tradicionais bastiões católicos. A derrocada do Bloco Comunista nos anos 80 e 90 permitiu também o ressurgimento católico em países eslavos como a Polónia ou a Ucrânia, onde os antigos regimes faziam antes a apologia do ateísmo. Mas geograficamente é nos Estados Unidos, em especial no Texas e na Califórnia, que os católicos têm vindo a ganhar terreno nas últimas décadas. Uma consequência do aumento extraordinário do número de hispânicos, com o avanço da língua espanhola a ser acompanhado a par e passo pela progressão da Igreja de Roma.

A África Negra continua, por seu lado, a ser o principal palco de missionação católica no mundo, mas tem sido o islão a conquistar terreno nessa região, tanto por força da demografia, como por via das conversões. Apesar da dificuldade em apurar números sobre as populações cristãs e animistas de países como o Sudão, a ideia geral é que o islão, na sua variante sunita, está a ganhar alguma vantagem, progredindo na costa atlântica a partir do Norte de África para o Golfo da Guiné e, no Índico, até à Tanzânia e mesmo Moçambique.

O islão sunita (90 por cento do total, os outros dez por cento são em geral do ramo xiita) ganha também crescente número de fiéis na Europa Ocidental, sobretudo graças às fortes comunidades de imigrantes em França, na Alemanha e no Reino Unido. Na Europa Oriental, o islão beneficia também de um ressurgimento religioso na Bósnia e na Albânia, países de maioria islâmica desde os tempos do Império Otomano. Simultaneamente, decresce de forma muito acentuada o número de cristãos árabes, com comunidades tradicionais como os coptas egípcios ou os maronitas libaneses a abandonarem o instável Médio Oriente e a emigrarem para a Europa ou para os Estados Unidos. Nos últimos anos, também os cristãos caldeus do Iraque se decidiram por uma forte emigração, fugindo primeiro à dureza do regime de Saddam Husssein e, depois, ao clima de violência que se seguiu à intervenção militar americana que derrubou em 2003 a ditadura.

Além do islão, a crescer a bom ritmo está também o hinduísmo, graças à elevada natalidade na Índia, o seu grande bastião. Dos mais de mil milhões de indianos, cerca de 80 por cento seguem os deuses do panteão hindu, o que representa perto de 800 milhões de pessoas. É, porém, uma religião regional, com escassa presença fora da Ásia do Sul, excepto em pequenas comunidades no Pacífico, como a das ilhas Fiji, ou nas Caraíbas, como a de Trindade.

O budismo, por seu lado, mantém-se estável no Sri Lanka e no Sudeste Asiático, com algumas adesões ocasionais no Ocidente, onde é visto como alternativa espiritual e onde tem beneficiado bastante da simpatia pela figura do Dalai Lama e pela causa tibetana.

Além das religiões tradicionais chinesas, outras duas religiões asiáticas têm um território muito circunscrito, caso do sikhismo, no Punjabe indiano (20 a 30 milhões de crentes), e do xintoísmo, tradicional do arquipélago japonês.

O judaísmo, maioritário em Israel, é forte nos Estados Unidos, na França e no Reino Unido.

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