A recusa da inovação

Contestando em permanência acionistas e dirigentes, a redação do jornal abre uma crise cuja gravidade o poderá condenar...
Publicado a
Atualizado a

A esquerda tem um talento inaudito para se disputar "por pés de cereja", dizem os francófonos: por duas vezes nada. E a extrema-esquerda, então, tem uma capacidade de fragmentação em capelas e capelinhas perfeitamente extraordinária! E quando os antigos adeptos passam com armas e bagagens para o liberal-libertarismo (ou coisas do género), a tendência capelo-cisionista mantém-se...

Mas não é só este ADN de origem que é mantido. Também a incapacidade de adaptação às novas realidades do tempo é muito tenaz. E os jornalistas do diário parisiense Libération estão a dar uma perfeita ilustração de todos estes males que caracterizam esquerdistas como novos conversos a um liberalismo pouco ou nada social.

Que os jornais em papel vão mal, não há leitor nenhum que não o saiba. E que editores e jornalistas precisem absolutamente de conceber jornais novos e modelos económicos de exploração igualmente novos, são evidências que já têm longos anos. Com esta insustentável perplexidade que ninguém sabe exatamente como traduzi-las, aplicá--las, viabilizá-las.

Depois de ter sido maoísta, socialista (outros dirão social-liberal) e liberal-libertário, Libération erra em plena deriva. Ninguém já sabe muito bem como se situa o seu projeto "societal" e nem sequer o seu projeto editorial. Tendo a redação perdido há anos o controlo do capital, o jornal é agora maioritariamente detido por acionistas de que se desconhece toda e qualquer sensibilidade "de esquerda".

Perante a nítida perda de difusão e um défice recorrente, os acionistas concebem um projeto: fazer que o diário volte a interessar os jovens, lançar uma rede social criadora de conteúdos monetizáveis e transformar a sede do jornal em espaço cultural. Não há garantia nenhuma de que isso seja a solução. Mas, na incerteza que reina no sector, o projeto tem o mérito de existir. Só que o ADN esquerdista da redação veio ao de cima. Acentuando uma crise que arrisca fazer desaparecer o jornal de que Jean-Paul Sartre foi, em 1973, o primeiro diretor...

As explicações do grupo RCS

Numa entrevista ao El País, o conselheiro-delegado do italiano que detém 96% da espanhola Unidad Editorial explica o despedimento do diretor de El Mundo, consequência da queda de 15% da difusão de janeiro a novembro, tendo os leitores conservadores abandonado o jornal após as revelações sobre a corrupção do partido no poder.

"The New York Times" ganha com leitores

Como foi o caso em 2012, o diário estado-unidense ganhou dinheiro tirando mais receitas dos leitores (graças às vendas em papel e às assinaturas digitais) do que da publicidade. As vendas em papel baixaram 1,1% mas as receitas aumentaram 3,7%. As assinaturas em linha aumentaram 19%, totalizando 760 mil em fins de 2013.

Seis selecionados para a Radio France

De 12 candidatos, o Conseil Supérieur de l"Audiovisuel selecionou seis: o atual presidente da Radio France, o secretário-geral da France Télévisions, o presidente do Institut National de l"Audiovisuel, a diretora-geral de Arte, a ex-diretora da France Bleu (rádio) e o presidente do Syndicat Interprofessionnel des Radios Independentes.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt