O chamado "caso BPN" é o maior exemplo da promiscuidade existente entre a política e o sector financeiro - além de um roubo, naturalmente. A fatura desta gigantesca fraude levará anos a ser paga pelos contribuintes, que esperam os resultados da investigação policial e vão assistir à segunda comissão de inquérito. Ao fim de todos estes anos, infelizmente, continuamos a não ter certezas, nem sequer sobre se a nacionalização do BPN foi a melhor solução. Até disto já podemos duvidar, sobretudo quando o valor da fatura desta decisão, que ainda não está completamente auditada, parece não parar de crescer. Visto da atualidade, o "risco sistémico" que foi na altura arguido em favor desta opção parece não valer a sangria ao Estado feita através da intervenção da Caixa Geral de Depósitos. Por outro lado, também nunca foi explicada de forma clara a relação do Presidente Cavaco Silva com os seus "amigos", pessoais e políticos, em particular a permuta do terreno onde construiu a casa de férias na Quinta da Coelha, avaliado pelo mesmo valor da casa de Montechoro, ficando assim isento de impostos - um negócio que, avaliado à luz do mercado imobiliário, tem todos os ingredientes para fazer inveja a qualquer outro português. Mais uma vez, apesar das várias tentativas, e das perguntas que endereçámos ao Presidente, não houve respostas..Este trabalho jornalístico que começamos hoje a publicar coincide com o arranque de uma segunda comissão de inquérito, que vai da nacionalização à reprivatização (a venda ao BIC), sem esquecer o passado e as conclusões do anterior inquérito parlamentar. Do que se trata é de facultar aos leitores o máximo de informação possível sobre este caso, para que todos possam formar a sua opinião. Para isso, recorremos a inúmeras conversas, à consulta de milhares de documentos, num trabalho que levou meses a ser executado..A discussão política é importante. Mas o verdadeiramente fundamental é que, em qualquer circunstância, se apure no plano judicial tudo aquilo que houver para apurar. Não é tolerável que na sociedade portuguesa continue a fazer caminho a perigosa ideia de que a justiça é cega perante os poderosos. As evidências deste caso são muitas. Os cidadãos não deixarão de estar atentos quer à coragem dos políticos quer à vontade dos investigadores.