A nova Nova Ordem Mundial
Já houve um tempo em que o futuro era promissor e ia ser escrito por nós, pelo ocidente. Esse tempo acabou e não sabemos em que tempo vivemos nem quem o escreve. Ou sabemos - e não temos porque celebrar.
George H. Bush foi o melhor presidente dos Estados Unidos da América que o mundo podia ter tido então (1989-1993). Preparado como poucos, discreto, diplomata e com sentido de serviço. Se Ronald Reagan (com Thatcher e o papa João Paulo II) ganhou a Guerra Fria, George Bush construiu a paz. Como recordou o New York Times, o então presidente escreveu no seu diário a 31 de dezembro de 1989: "I'm certainly not seen as visionary, but I hope I'm seen as steady and prudent and able."
Para além da sua história pessoal, marcada pela coragem de, a seguir a Pearl Harbor, se voluntariar para combater na Segunda Guerra Mundial, George H. Bush mostrou como via o mundo pós-Guerra Fria em duas decisões fundamentais: a libertação do Koweit com o acordo de todos os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (sem entrar pelo Iraque adentro e destronar Saddam porque não era esse o mandato) e a reunificação alemã dentro da NATO (contra a vontade de Thatcher e Mitterrand que perceberam que uma Alemanha unida seria a verdadeira potência europeia, mas isso é outra história). Num caso e noutro, a América de Bush era um poder vitorioso, com um propósito, como disse no seu discurso inaugural: "(...) To make kinder the face of the nation and gentler the face of the world."
As democracias liberais tinham ganho a guerra, era o fim da história, declarou Fukuyama em 1992. Quem cresceu durante a Guerra Fria viveu aqueles tempos assim. O ocidente tinha provado a sua razão, o futuro do resto do mundo ia ser tão promissor quanto o nosso. Havia um caminho, tinha havido e continuava a haver liderança. Quem cresceu nos anos seguintes, já em plena paz e durante uma onda democratizadora que pareceu irreversível, habituou-se ao otimismo. Até que alguma coisa aconteceu.
Como escreveu em outubro passado Anne Applebaum, entre a passagem de ano que organizou no interior da Polónia em 1999 e hoje há uma enorme transformação. Muitos dos que então celebravam a chegada do país - e, de um modo geral, da Europa de Leste - ao ocidente, agora seguem um caminho divergente da ideia das democracias liberais. Mas não é apenas aqui que se nota a diferença.
Enquanto no ocidente assistimos a uma transformação que não lideramos e que não sabemos onde nos levará, do outro lado do mundo parece haver quem saiba para onde vai. Se olharmos para os artigos que o New York Times tem escrito sobre a China, para o que Bruno Maçães escreveu há duas semanas no Expresso ou para a preocupação por trás da recente decisão europeia de estabelecer um " quadro de análise do investimento direto estrangeiro na UE", sabemos de quem é que o ocidente tem medo.
Em 2019 fará 30 anos que o Muro de Berlim caiu e 60 que a NATO foi criada. O que devia ser um momento de celebração é de enorme incerteza para nós. E angústia. Talvez isso explique tudo o resto.
Consultor em Assuntos Europeus