Ontem, num ambiente económico - aniversário do Diário Económico e discussão sobre o fim da troika - Pedro Passos Coelho saiu-se com esta frase: "Não devemos esfolar um coelho antes de o caçar." A assistência riu, como nos cabe, povo simpático, perante frases surpreendentes. É verdade que o primeiro-ministro, sorrindo, mostrou que assumia a piada quando prosseguiu: "Eu que estou aqui e sou Coelho, não gostaria de ser caçado antes de poder dizer que nós concluímos todos os exercícios do programa de ajustamento." Ora tudo isto não faz sentido nenhum. A menos, como julgo, que o faça. Comecemos pelo inverosímil: "Não devemos esfolar um coelho antes de o caçar" dito por alguém chamado Coelho ou Melquíades é o mesmo, é sempre tolo. Mesmo os portugueses acusados de pouco sentido prático sabem que esfolar um coelho que esperneia é difícil, quanto mais ousar fazê-lo a um que ainda corre nos bosques! Por isso, porque o povo é sábio, é que não há nenhum provérbio assim. Há é um provérbio que soa parecido: "Não vendas a pele do urso antes de matá-lo"... E era aqui que o primeiro-ministro queria chegar, tanto que inventou uma frase e colou-se a ela ("eu, que sou Coelho"). Afinal, não era de economia que ele falava, mas de política: "A notícia de que o Coelho já está esfolado é exagerada...", lançou ele aos adversários. Foi subtil e se Seguro fosse prudente atirava-se também a provérbios imaginativos. O debate político ficava a ganhar.