A nação que vende gato por lebre

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É absolutamente necessário que os líderes partidários não aproveitem o debate sobre o Estado da Nação para continuarem a dar o triste espectáculo que dão com o passa--culpas a propósito das sanções europeias. Este gato por lebre que andam a tentar vender a Bruxelas não ajuda em nada a evitar as famosas sanções. Não podem fazer de conta que estão contra e, ao mesmo tempo, apresentarem argumentos que justificam essa posição europeia. Não aceitamos sanções porque elas são injustas. Ponto. Não é porque elas se justificam com o défice de 2015, mas ele resulta da obediência do anterior governo às teses da austeridade. Nem porque o actual governo está levar o país para novo défice excessivo.

O país não precisa de líderes partidários mais interessados em ganhar os debates políticos do que em defender o interesse nacional e europeu. Nada justifica que, a partir de Lisboa, se alimente um debate que só serve o interesse dos falcões europeus, mais preocupados em disfarçar as suas incompetências do que em salvar esta União Europeia que já teve melhores dias.

Mas o debate não tem de ser inócuo, sem revelar as divergências que existem em projectos políticos que são manifestamente divergentes. Estamos longe das campanhas eleitorais, não precisam de disputar intenções de voto, mas importa que o país não perca a memória de que a Segurança Social precisa de uma reforma e que há vários caminhos para a fazer. O Estado da Nação não é a treta das sanções e o faz-de-conta em que estamos todos de acordo.

Esta é uma nação a precisar de um projecto político sério, assente em finanças públicas saudáveis, para que não tenhamos de entregar a soberania a uns burocratas de Bruxelas. A precisar de uma classe política que não venda gato por lebre também internamente, que não prometa mais do que é capaz de fazer, mas que seja capaz de mobilizar os portugueses para construirmos uma sociedade mais justa e mais próspera.

O Serviço Nacional de Saúde, de que nos devemos orgulhar. A escola pública, que nos deve unir e que devemos saber preservar. O turismo, em que Portugal está entre os países mais competitivos do mundo. A agricultura e as pescas, que passaram por tormentas mas que são agora mais modernas e rentáveis. O calçado e os têxteis, essenciais para Portugal equilibrar a balança comercial. Falem-nos disto, senhores deputados. Façam um debate sobre uma ideia para o país.

Não precisamos de frases feitas que abrem telejornais e noticiários das rádios, ou que fornecem bons títulos para os jornais. Não queremos ir de férias com a confirmação de que são todos iguais. Não queremos um debate centrado na crista da onda, a falar dos assuntos que dominam a agenda mediática, por imposição de spin doctors que sabem de comunicação mas não têm nada para oferecer de relevante e que possa ajudar a melhorar a vida dos portugueses. Elegemos políticos para resolver problemas, não para ganhar debates. Façam o vosso trabalho, que o resto do país cá estará para fazer o dele.

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