A lei seca de Guardiola ressuscita a alma catalã do Barcelona

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'Pep Team'. Um ano depois de se estrear como treinador, na equipa B do Barcelona, Josep Guardiola recuperou a alegria de, 'més que un club' (mais do que um clube), toda uma nação. O Barça ganha e marca muitos golos, mas é a disciplina, a responsabilidade e o valor do trabalho que apontam de positivo

Culés lideram Liga espanhola e já marcaram 34 golos em dez jogos para o campeonato

Afundado na ressaca de uma fase gloriosa com Frank Rijkaard (ligas e Champions no bolso, por exemplo), o Barcelona chegou a uma encruzilhada. O que fazer com uma constelação de estrelas afastada dos valores do trabalho e das vitórias? Acabar com ela e começar de novo. E foi mesmo assim: contrataram um culé para recuperar a alma catalã do Barcelona e Josep Guardiola já conseguiu entrar na história por registar uma marca: o Pep Team. Uma marca de golos, muitos, catalães na equipa, união entre adeptos e jogadores. O Barça é més que un club.

O percurso entre a dúvida, que foi o que fez ruir o projecto Rijkaard e custou estatuto a Ronaldinho (foi para o Milan) e Deco (Chelsea), rostos do génio desse plantel, e a afirmação das ideias de Guardiola não demorou muito. E anunciou-se logo de entrada, em Junho, quando foi apresentado como treinador do Barcelona - deixando a equipa B, onde fez, na época anterior, o tirocínio. "Não se preocupem, o Barcelona vai trabalhar e correr", assegurou o catalão de 37 anos que fez grande parte da carreira nos blaugrana - era o cérebro da mítica dream team de Johann Cruyff na década de 90.

Os primeiros jogos foram difíceis - contra Soria e Santander só meteu um golo de penálti: "Esta equipa tem muito golo", profetizava Pep -, mas o projecto era tudo. E Guardiola não mudou uma vírgula. Porque tinha um plano. E esse plano baseia-se em duas ideias-chave: disciplina e responsabilidade. Obviamente, com muito trabalho pelo meio. A ideia de disciplina está estampada na lista de multas. A responsabilidade, na liberdade: em dias de jogo em casa, os jogadores treinam pela manhã e têm o dia livre, sendo obrigatório apenas que se apresentem no estádio hora e meia antes do jogo.

Guardiola, que é obsessivo com o método, enriqueceu-se culturalmente fora da Catalunha. Sobretudo em Itália, onde jogou pelo Brescia e quase nada pela Roma - foi em Itália que se envolveu num escândalo de doping do qual foi anos mais tarde ilibado. Daí trouxe os métodos invisíveis, como as refeições em grupo para controlar excessos. Veja- -se o que diz Messi: "O peixe foi uma descoberta." As mudanças alimentares estão ligadas ao grande nível atingido esta época pelo argentino.

A outra força de Pep Guardiola é ser catalão e pensar catalão. Se antes se questionava o "holandização" do Barça (com Van Gaal jogavam até oito de início), agora são reforçados os laços patrióticos com sete atletas vindos da cantera em jogos com Atlético e Real Madrid. O Barcelona ganha e os adeptos batem palmas.

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