A IDEIA QUE MUDOU O PRAZER DA BICA

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A IDEIA QUE MUDOU O PRAZER DA BICA

O mercado de café em Portugal vale 370 milhões

As filas que se formam, especialmente nesta altura de Natal, à porta da loja da Nespresso não enganam. O café de cápsulas está na moda. Apesar do preço, de não estarem à venda em muitos locais e da dificuldade de reciclagem. Ganha, no entanto, em simplicidade, em higiene e em variedades.

É verdade que a Nespresso revolucionou o mercado com o sistema de cápsulas. Também é verdade que este ano ganhou concorrentes de peso em Portugal. Desde logo, a Delta, líder do mercado de cafés, apresentou mesmo a tempo do Natal o seu sistema de cápsulas. Antes só trabalhava o segmento de pastilhas que, tal como as cápsulas, são práticas de usar e higiénicas. Têm a vantagem, deixa claro a Nutricafés que esta semana lançou a Inducci (de pastilhas), de puderem ser usadas em várias máquinas, não estando presas a sistemas fechados.

Tanto o Nespresso, como a Delta Q, como a Dolce Gusto (também da Nestlé) só podem ser utilizadas nas máquinas próprias. Uma característica que tem afastado alguns consumidores. E é por isso que João Dotti, director-geral da Nutricafés, enfatiza que as pastilhas Inducci podem ser utilizadas em máquinas expresso tradicionais (podendo haver a necessidade de se comprar, apenas, um porta-filtro apropriado, já que para que saia um bom café a pastilha tem de preencher todo o filtro, não permitindo que a água saia pelos lados). Apesar de a Nutricafés, que detém a Nicola, ter também lançado sistemas próprios, mas onde qualquer pastilha (desta ou de outras marcas) pode ser usada. João Dotti garante que o objectivo foi conseguir máquinas a baixo preço (a mais barata custa 90 euros), já que, em seu entender, não se justifica ter um equipamento para 10 anos.

Uma clara alusão aos preços das máquinas dos concorrentes. A mais barata da Nespresso é de 149,9 euros e a Delta Q optou por ter umas máquinas da Bugatti (marca de automóveis de luxo) perto dos 500 euros (em moeda antiga são 100 contos). A opção passa mais pelo design. Têm igualmente uma função importante de decoração.

Portugal, segundo dados da Nestlé referentes a 2006, tem 190 mil máquinas expresso, sendo 34 mil de sistemas fechados, devendo estes chegar em 2009 a um total de 139 mil máquinas.

A questão impõe-se. Mas será este café de cápsulas ou pastilhas melhor? Em Portugal ainda não há críticos dedicados a este mercado, como há no vinho, embora os portugueses sejam apreciadores de um bom café. Virá o tempo em que nos restaurantes se poderá escolher pela carta de cafés? Os portugueses são apreciadores, mas Rui Miguel Nabeiro, é claro: "Muitas vezes quem decide a marca que se consome é o restaurante, ao escolher a marca que vende." E na restauração, a qualidade de um café pode estar associada não só à marca mas também ao estado de conservação da máquina, ao seu manuseamento, à água, etc.

Em Portugal, 80% do consumo de café ainda é fora do lar. Em casa, a dose individual (cápsulas e pastilhas) garante pelo menos um café idêntico em cada tiragem. Por outro lado, permite ao consumidor ter mais variedades em casa. Todas as empresas comercializam caixas com poucas unidades (10, 16 ou no caso da Inducci também de 50). No caso da Nespresso, "os portugueses têm preferência pelo Roma depois segue-se o Ristretto e o Volluto. O Roma é uma mistura expresso composta por café das terras altas da América Central, caracterizado pelo seu paladar intenso. A ele adicionaram-se proporções semelhantes de café brasileiro e africano que lhe conferem corpo e harmonia".

Embora apreciadores, não são grandes conhecedores, decidem pelo sabor, sem conseguirem explicar bem a razão. Os portugueses consomem, anualmente, 1,5 quilos de café, o que equivale a qualquer coisa como 150 bicas. 70% dos portugueses consomem café, mas apenas 60% o fazem no lar. Por isso, a oportunidade de fazer crescer este consumo, dizem os responsáveis. Luís Ferreira Pinto, da Nestlé, explica que o lançamento da Dolce Gusto se explica, também, por ser "um sistema multibebidas de elevada qualidade". Estas máquinas não fazem apenas café expresso. Estão à venda em grandes superfícies, à semelhança da Delta Q (que estenderá a comercialização do seu sistema a partir de 2008, até lá só existe no Corte Inglés), e da Inducci (a partir de Janeiro). A Nespresso mantém a política de só comercializar as cápsulas nas lojas próprias, por telefone e via Internet. Este canal é, aliás, utilizado por todas estas empresas. Mas os portugueses preferem ir às lojas.

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