A feira das vaidades
Manhã a entrar bem cedo na Feira de Carcavelos e já o movimento é grande em torno das bancas de roupa. Mãos femininas revolvem cabides e peças, olhos atentam nos rosas e azuis-vivos das saias, cobiçam, apoderam-se, põem de parte. "Olha a saia da Floribella. Escolha, amiga, são a 10 euros", apregoa a cigana do alto da sua ilha de tecidos. "Vamos lá a ver: comprem, comprem." E a verdade é que o desfile não pára naquele universo de flores e tule.
As barracas sucedem-se na poeira do recinto, a competição de cor torna-se feroz entre os feirantes. "As saias têm muita saída, anda toda a gente doida à procura delas! Já só tenho estas", revela ao DN Fernando Coelho, afagando os últimos exemplares que ainda lhe restam, agora que a fábrica fechou para férias. As peças mais fiéis ao original, "em tecido resistente e todas elas forradas", custam 17 euros. Outras há que são mais baratas, a 10, menos parecidas com as da novela mas igualmente apetecíveis a quem chega.
"São sobretudo mães com filhas pequenas que vêm comprar, mas também há miúdas crescidas a perguntar por números maiores, para elas próprias", conta o feirante, ainda hoje maravilhado com o fenómeno. "É a loucura do momento", espanta-se, "nunca vi nada assim. Foi sem dúvida a Floribella que animou o negócio este ano." Uma volta à feira basta para comprovar a veracidade das palavras de Fernando Coelho.
Aqui, uma criança passa literalmente vestida de Flor da cabeça aos pés - as mesmas botas de lona, os mesmos cachos dourados de cabelo, o mesmo tecido berrante aos corações. Além, uma senhora afasta-se com duas saias debaixo do braço, o sorriso confiante de quem acaba de fazer boa compra. E nem só de pano vive o negócio: há os ténis a imitar os da protagonista, os relógios azuis, verdes e rosa estampados com flores e borboletas, os anéis. Tudo faz a moda do momento. Tudo vende.
"As saias que tínhamos da Floribella em tamanhos de criança e cores luminosas esgotaram num ápice. Aqui e nos fornecedores", confirmam Carlos e Natália Ferreira, pasmados ainda com esta "insistência" geral. Nunca viram a novela, não entendem a euforia colectiva. Sabem apenas - e já é muito quando a alma do negócio são as vendas - que "tudo o que seja florido e parecido com a roupa que essa tal de Flor usa vende que é uma maravilha, vá-se lá saber porquê". Ao que parece, o tule agarrado às saias veio para ficar.