A Europa e os Balcãs

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Não há muito tempo convivi alguns meses com diplomatas e militares de países balcânicos, em intensos e diários debates, grupos de trabalho, visitas de estudo e simulações de crises internacionais. Na altura marcaram-me três situações: a sua capacidade de olhar em frente depois da década sangrenta; o peso da culpa sentido e colocado nos sérvios; a vantagem de ser português, quer pela ausência de passado trágico, quer pelas potencialidades em estabelecer laços e pontes.

Esta semana, quando li a notícia da detenção de Ratko Mladic, lembrei-me deles. Diplomatas e militares entre os 30 e 40 anos, com infâncias destruídas pela guerra, sentavam-se à mesa sem recurso ao passado. Não sei se era capaz. O que sei é que todos estavam conscientes que a adesão à NATO e à União Europeia era o único caminho para a estabilidade e desenvolvimento da região. A prisão de Mladic não é uma caça ao homem: é o maior dos requisitos para a adesão da Sérvia. É Belgrado que carrega o peso da história e é a Belgrado que se exige quase tudo. A verdade é que tem sabido responder às expectativas: eleições livres orientaram o caminho europeu e atlantista; geração de governantes jovem, com visão e experiência além-fronteiras; maturidade e paciência política quando encaixaram a independência do Kosovo.

Está na altura de olhar para o alargamento aos Balcãs como ele é: prioritário. Com respostas concretas aos esforços que têm feito. Aproximando elites empresariais, políticas e culturais. Amarrando a região ao resto da Europa por estacas e não por arames: há situações politicamente frágeis, etnicamente instáveis, economicamente pobres e grandes brechas na segurança e crime organizado. Se a prisão de Mladic servir para alimentar um positivo protagonismo dos Balcãs, então as vítimas de Srebrenica acabaram de ter mais uma grande homenagem.

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