A CPI curou Pedro Nuno da TAP que o afligia

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Foi tudo normal. E como não houve irregularidades, não há responsáveis. É circular, se faz favor, que aqui não há nada para ver. Cinco meses depois de aprovada a comissão de inquérito à TAP - para tratar temas gravíssimos de interferência de governantes numa empresa pública; para analisar decisões irresponsáveis e lesivas tomadas por ministros-estrelas, que em consequência se demitiram ou ficaram na corda-bamba; para pesar o exercício da tutela política da TAP - concluiu-se: não há nada a assinalar.

Foram 46 audições presenciais que se arrastaram por 170 horas e obrigaram à revelação de dezenas de documentos oficiais, mas tudo o que aconteceu decorreu na paz dos anjos e no mais regular funcionamento das instituições. Não há evidência de interferências políticas na gestão da companhia, nem o governo, por inteiro ou em partes, fazia ideia de nomeações, indemnizações e confusões que possam ter acontecido. Não há culpados. Nada.

A CEO despedida à má fila, e cuja justa indemnização será atempadamente cobrada aos contribuintes, foi bem dispensada. Já foi tarde e é a única culpada do que correu mal. Ela e a administradora que foi secretária de Estado de Medina por um mês. E ponto final no relatório. Responsáveis políticos, não há, concluiu a relatora socialista da competente comissão de inquérito que ocupou 17 deputados durante meses e registou várias baixas e casos no processo, da saída de Seguro Sanches de presidente da CPI à suposta fuga de informação de que foram todos acusados e ilibados.

Ficamos descansados, nós, portugueses, que o nosso dinheiro é bem empregado a pagar representantes políticos e a financiar companhias nacionalizadas para satisfazer sonhos húmidos de poder e de ideologia soviética - logo se decidindo reprivatizar, com argumentos defendidos pelos mesmos protagonistas e com igual assertividade.

E ainda temos bónus: no próprio dia em que sai o relatório que junta argumentos e escolhe factos para dar respaldo ao enorme vazio assinado pela senhora relatora socialista, o deputado popstar voltou ao Parlamento e mostrou aquilo de que é feito. Ao fim de seis meses de exílio, regressou com honras de direto televisivo, desfilando pelo hemiciclo a acenar aos seus e aos outros, e instalou-se confortável para o beija-mão. Livre das recíprocas mágoas que o apartavam de António Costa, foi indultado e pôde enfim ser brindado às claras. E lá foi, obediente, Marta Temido a saltitar até à última bancada para saudar o seu líder ideológico. E até Brilhante Dias parecia contente com o regresso do delfim de reputação e potencial restaurados.

É milagre: Pedro Nuno está curado da TAP que o afligia. E até tem o competente relatório a atestar a imunidade adquirida. Tudo o mais desfez-se em pó. Nada a assinalar.

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