Olhar o espaço como nunca ninguém tão claramente o conseguiu olhar - é o projecto em que participa o astrónomo Nuno Cardoso Santos, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP). Um projecto que visa elaborar uma nova e mais completa cartografia do espaço, descobrindo novos planetas fora do nosso sistema solar, com a particularidade de possuírem na sua atmosfera as "componentes indispensáveis à formação do ciclo da vida", explica. Isto significa que estamos a falar de planetas semelhantes ao planeta Terra..O projecto designa-se Espresso e resulta da cooperação de cientistas de Espanha, Itália, Suíça e Portugal, envolvendo no nosso país elementos do CAUP e da Faculdade de Ciências de Lisboa. O projecto visa a criação e instalação de um espectrógrafo - o mais sofisticado e potente até hoje construído - nos telescópios que varrem o espaço para além do nosso sistema solar, devendo estar em funcionamento em 2014, pensa Nuno Santos. Investigador no CAUP desde 2006, o astrónomo é actualmente orientador de teses de mestrado e doutoramento na Faculdade de Ciências do Porto..O cientista português, por sua vez, doutorou-se em Genebra com uma tese sobre planetas fora do nosso sistema solar (exoplanetas), orientada por Michael Mayor, pioneiro nesta área de investigação. Mayor é responsável, com Didier Queloz, pela descoberta em 1995 do primeiro planeta extra-solar a orbitar em torno de uma estrela, o 51 Pegasi b.. O investigador português explica que o projecto Espresso vai suprir uma lacuna fundamental neste campo, a "inexistência de tecnologia para chegarmos mais longe no espaço" e confirmar, finalmente, os "indícios que nos levam a acreditar que planetas como a Terra são comuns no Universo". ."E, mais tarde ou mais cedo, tudo indica que se encontrará um planeta semelhante ao nosso" - e com condições para a "formação do ciclo de vida", como já se referiu. Esta descoberta teria um impacto único sobre as nossas concepções sobre a vida e o universo. .E que formas de vida se poderão encontrar? - "Não me atrevo a entrar por aí. O que sabemos é que a vida se desenvolve de formas muito variadas e em condições extremas. Precisamente, o que se pode encontrar, é o que não se pode prever", refere este astrónomo nascido, em 1973, na antiga Lourenço Marques, em Moçambique. .O projecto Espresso visa apenas a descoberta dos planetas. O estudo destes será objecto de outros projectos actualmente a serem desenvolvidos pela Agência Espacial Europeia (ESA) ou pela NASA. Serão estes projectos que permitirão identificar "biomarcadores, como o ozono ou a água na atmosfera dos planetas", que determinam a possibilidade de existência de vida, indica o cientista..De alguma forma relacionado com o projecto Espresso, está o programa coordenado por Nuno Santos no CAUP e de que resultou a atribuição pelo European Research Council de uma bolsa de um milhão de euros. Esta verba destina-se a financiar e reforçar a equipa que existe e se prepara para trabalhar directamente no Espresso quando este estiver operacional..Nuno Santos, que viveu durante a sua juventude no Norte do país e estudou em São João da Madeira e em Mirandela, interessa-se desde esta época pela astronomia. Depois de concluir o curso de Física na Faculdade de Ciências de Lisboa, o mestrado é já na área da Astrofísica, ponte para o doutoramento de Genebra. .Nesta cidade helvética integrou durante algum tempo uma equipa de astrónomos de várias nacionalidades, entre portugueses, franceses, suíços e outros, que foi colocada no observatório de La Silla, no deserto chileno de Atacama. Foi esta equipa a responsável pela identificação de 32 novos planetas situados fora do nosso sistema solar. Uma facto anunciado em Outubro último e que antecipa, assim se espera, novas e mais importantes descobertas a realizar no âmbito do projecto Espresso.