A cirurgia é fundamental na maior parte dos tumores cerebrais

No Dia Mundial do Tumor Cerebral, que se assinala a 8 de Junho, é fundamental dizer que todos os dados alertam para a necessidade de cedo diagnosticar e rapidamente tratar. Os avanços científicos e tecnológicos confirmam a importância da cirurgia. Saiba porquê.
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Os tumores do cérebro e sistema nervoso central são a causa mais frequente de cancro até aos 14 anos de idade e a segunda mais frequente entre os adolescentes dos 15 aos 19 anos. Já na população adulta, acima dos 40 anos, figuram em oitavo lugar na lista de neoplasias mais frequentes. Enquanto que, entre crianças e adolescentes, a incidência de neoplasias malignas e benignas é respectivamente de 3,5 e 2,6 por 100 mil, na faixa etária mais velha a proporção inverte-se com uma incidência de 8,5 malignas e 22,4 benignas por 100 mil.

Estes dados deixam-nos em sentido de alerta para a importância de cedo diagnosticar e rapidamente tratar. Para a importância de continuarmos a apostar no avanço científico e tecnológico desta área. Para a importância de falarmos do assunto.

Tanto para os mais novos como para os mais velhos, os gliomas - que provêm das células de arquitectura e conexão do cérebro e não propriamente dos neurónios -, são os tumores malignos mais frequentes, sendo que dos benignos os que mais diagnosticamos e tratamos nas crianças e adolescentes são os da glândula da hipófise e, nos adultos, são os da hipófise e os meningiomas, das meninges, os invólucros do cérebro.

Para além destas lesões, o cérebro é, com frequência, afectado por tumores secundários a neoplasias com sede primária noutro local do corpo. São as chamadas metástases e ocorrem com uma incidência anual praticamente dupla da dos gliomas, ou seja, cerca de 7 a 14 casos por 100 mil habitantes.

Vários factores de natureza genética, social, ambiental têm sido investigados como potenciais causadores ou propiciadores da ocorrência de tumores cerebrais. Destes, e de uma forma comprovada, apenas os aspectos genéticos associados a algumas doenças que cursam com mutações cromossómicas facilitadoras do seu aparecimento. Por exemplo, a neurofibromatose e a exposição à radiação parecem ter um efeito carcinogénico. A utilização de campos magnéticos de muito baixa frequência, tal como o uso de telemóveis, não foi consistentemente ligada à ocorrência de neoplasias cerebrais, o que por si só não deve desaconselhar um uso razoável destes equipamentos.

Importa saber que os avanços tecnológicos têm assegurado uma melhoria substancial do nosso conhecimento anatómico e funcional do cérebro, permitindo simultaneamente testar a sua função durante os vários procedimentos terapêuticos a que submetemos os nossos doentes. De uma forma geral o tratamento dos doentes obedece quase sempre à sequência de três etapas, habitualmente, por esta ordem: cirurgia, tratamentos complementares não cirúrgicos e vigilância no tempo.

Os tratamentos complementares a que nos referimos consistem na utilização de técnicas de radioterapia e de quimioterapia, nas suas diferentes variantes. Também aqui o avanço tecnológico tem permitido melhorar substancialmente estes tratamentos, talhando-os por assim dizer de uma forma bem mais rigorosa às necessidades individuais. Existem actualmente várias formas de irradiar estes tumores com doses mais ou menos focadas e intensas, permitindo poupar ao máximo as áreas circundantes do cérebro que não estando afectadas se pretende não sejam lesadas com a radiação.

Os tratamentos oncológicos médicos incluem uma panóplia de regimes de quimioterapia e também da chamada imunoterapia, prescritos de acordo com o perfil molecular dos tumores que, na actualidade, se sobrepõe ao diagnóstico morfológico do tecido tumoral removido. Curiosamente, o avanço científico e tecnológico em vez de limitar as indicações cirúrgicas destes doentes tem seguido uma tendência contrária. É incontestável a importância da cirurgia na maior parte dos casos de tumores cerebrais, constituindo habitualmente o primeiro passo do encadeamento terapêutico referido.

O propósito da cirurgia é a remoção senão completa pelo menos o mais radical possível do tumor. Importa garantir, tanto com a cirurgia como com as restantes modalidades de tratamento, que este objectivo seja atingido sem criar nenhum defeito neurológico ao doente e, sobretudo, sem interferir com as funções definidoras da nossa singularidade enquanto indivíduos. Referimo-nos sobretudo aos aspectos relacionados com a linguagem bem como das outras funções cognitivas superiores, como a memória, o humor, a atenção, a concentração... etc.

Fácil será de entender que o tratamento obedece a um encadeamento complexo e contínuo de experiências, conhecimentos e decisões, ao abrigo do propalado conceito de multidisciplinaridade, mas que aqui se aplica por excelência. As recomendações de tratamento são regularmente revisitadas pela equipa médica responsável pelo tratamento de cada doente e devem ser iluminadas por um conjunto fundamental e equilibrado entre o conhecimento científico, tecnológico e a experiência, sendo esta última desejavelmente inspirada no bom senso individual e do grupo.

Neurocirurgião no Hospital CUF Tejo e na Clínica CUF Almada | Coordenador do Centro de Neurociências no Hospital CUF Tejo

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