A boa solução política só adia o problema

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Há mês e meio parecia impossível o Governo sair do enorme problema político em que se enredou no caso das Scut. Ao fim de mais de um mês de negociações com o PSD, os socialistas acabaram por ficar sem parceiro e, aparentemente, sem solução à vista para colocar portagens - sem que a oposição acabasse por, uma vez mais, se colocar no meio do caminho. Porém, politicamente, o Governo acaba por conseguir a menos má das soluções, avançando já com as três portagens a norte, deixando para daqui a seis meses as quatro que ficam a faltar. Uma metodologia que evita o confronto directo com a oposição.

Na prática, o Governo tinha três caminhos a escolher - e este era o menos polémico. O primeiro era meter a solução para as Scut num decreto-lei, que acabaria por ser travado no Parlamento; o segundo era colocá-lo no próximo Orçamento do Estado, confrontando o PSD com a necessidade de uma solução, mas subindo a tensão negocial. O terceiro cenário era este: aprovar por mera resolução as isenções e descontos e aplicar já (a 15 de Outubro) a lei que, enquanto houve negociações, o PSD salvou de chumbo na Assembleia.

O segredo da solução é esse mesmo: sem que os sociais-democratas possam fazer algo para travar esta medida (o Parlamento não pode travar uma mera resolução), acaba vinculado a uma decisão que ajudou (involuntariamente) a criar: as portagens nas Scut do Norte, que o próprio PSD dizia querer ver ao mesmo tempo no resto do País.

É claro que a jogada política tem mérito, mas também fragilidades. A maior delas é que adia para 2012 o mais importante (generalizar as portagens a moradores e empresas). Antes disso, terá de resolver em Março/Abril (já com as presidenciais resolvidas) as portagens nas restantes quatro Scut. Dir- -se-ia, neste caso, que a solução política é óptima, a técnica nem tanto.

A segunda vida de Fidel em defesa do seu legado

Fidel Castro está a viver uma segunda vida, depois da grave doença que o afastou da Presidência de Cuba e que o fez estar às portas da morte. E está a aproveitar este segundo fôlego para limar algumas arestas do seu legado, seja lamentando a perseguição aos homossexuais no início do seu regime, há mais de meio século, seja, mais surpreendentemente, confessando agora a um espantado jornalista americano que "o modelo cubano está esgotado".

Como ninguém duvida da inteligência extrema do homem que fez frente a uma dezena de presidentes dos Estados Unidos, e que aos 84 anos não dá quaisquer sinais de senilidade, a defesa do seu legado passa também por um apoio claro às reformas que o seu irmão e sucessor Raúl terá de fazer na ilha comunista. Forçada a abraçar o comunismo por causa da hostilidade dos americanos, a revolução cubana tornou-se subsidiária da União Soviética até ao desaparecimento desta em 1991, e desde então procura um novo rumo. E, sem abdicar do controlo político absoluto, o Partido Comunista Cubano ensaia tímidas reformas económicas, essenciais ao bem-estar de um povo que agradece aos frutos da revolução mas quer mais.

Fidel, para garantir que o legado lhe sobrevive, precisa que a revolução cubana continue, ainda que transformada para se adaptar aos tempos. Um modelo sempre pode dar lugar a outro.

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