A benfiquista vaidosa que chorou ao ver o Papa

Em pequena entrevistava os pais. Cantou no coro da igreja e costumava estragar as bonecas da irmã. A jornalista da RTP, que desde domingo contracena com José Sócrates, é viciada em chocolate mas não é um bom garfo.
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Corria o ano 2004 quando Jorge Sampaio visitou o Papa João Paulo II no Vaticano. Entre os vários jornalistas que o acompanharam estava Cristina Esteves, repórter da RTP1, que fez a cobertura da visita do então Presidente da República. "Na altura eu era editor de política e escalei a Cristina para esse evento. O Papa já estava muito débil e sei que a Cristina estava na sala e desatou num pranto quando o viu. Foi algo muito comovente, tanto quanto sei, ela ficou muito tocada", recorda à Notícias TV o colega Vítor Gonçalves. A jornalista confirma o melindre da situação. "Cheguei mesmo a falar com ele. E sinceramente não me consigo lembrar do que me disse. Só sei que desatei a chorar. A minha mãe tinha morrido há pouco tempo e foi uma sensação única estar ali. Ele ofereceu-me um terço. É uma situação que ainda hoje recordo e da qual tenho fotografias", diz Cristina Esteves.

A pivô da estação pública é uma "mulher de alguma fé, que acredita em energias" e chegou a cantar no coro da igreja. "Ela não canta, mas em pequenina traulitava, aos quatro, cinco anitos e tinha uma voz engraçada. A Cristina chegou mesmo a andar comigo no coro da igreja, mas depois saiu", revela a irmã Tina.

Em pequena entrevistava os pais

Maternidade Alfredo da Costa, 31 de outubro de 1969. Os ponteiros do relógio indicavam 14.30. Mais uma bebé conhecia a luz do dia. Hoje todos a conhecemos por Cristina Esteves, mas no momento em que foi conhecer a irmã, Tina, então com dez anos, teve uma desilusão. "Queria muito um irmão e lembro-me de ir com o meu pai à maternidade ver o bebé. Estava convencidíssima de que era um mano e depois vi que era mana", diz, entre risos, acrescentando: "Mas depois tudo passou e acabei por ficar muito contente." Cristina começou a andar "aos 12 meses e a falar cedo", acrescenta Tina. "Era muito trapalhona, como todos os bebés, mas começou a falar rapidamente. E não usou a chucha até muito tarde, penso que até aos dois, três anos, até ter dentes, porque depois rebentava tudo", conta ainda.

Como filha mais nova, a jornalista era a "princesa lá de casa", e desde pequena que já mostrava indícios de que um dia seria jornalista. "Sempre foi uma criança muito vivaça, extrovertida, mas sempre com a tendência para andar com o microfone na mão. Adorava fazer entrevistas ao pai, à mãe...", relata, a rir, Tina. Mas também tinha brincadeiras próprias da idade. "Adorava estragar coisas. Arrancava os cabelos das minhas bonecas e brincava muito com os tachos, as panelas, com os carecas, aos pais e às mães", conta à nossa reportagem.

A infância da pivô do Telejornal foi passada entre a Rua Morais Soares e o bairro de Alvalade, em Lisboa, para onde foi viver aos seis anos. Andou num externato, depois foi para a Escola Padre António Vieira, onde permaneceu até concluir o 12.º ano. Era ainda pequena quando conheceu Cristina Martins, hoje uma das suas melhores amigas. "Morávamos na mesma rua. Brincávamos bastante. Às escondidas, ao elástico, mas quando éramos mais novas. E, como não havia telemóveis, falávamos uma com a outra à janela", conta. Outra amiga, Irene Nunes Barata, com quem se cruzou no 12.º ano, destaca as qualidades de Cristina nas aulas. "Era muito esperta, muito atenta, interessada, fazia muitas perguntas. Ela sempre foi muito comunicativa. Já tinha o bichinho da comunicação dentro dela".

Terminado o ensino secundário, Cristina Esteves ingressou no ensino superior. Entrou em Direito, na Universidade Clássica, com uma média de 17 valores, apesar de o seu desejo sempre ter sido tornar-se jornalista. "Ela foi para Direito como uma forma de complementar a profissão de jornalista", esclarece Irene.

E foi no mesmo momento em que ingressou no curso de Direito que a jornalista chegou ao canal do Estado. Tudo começou com a resposta a um anúncio numa revista para um concurso público. E a culpa foi... de Luís, atual marido, uma vez que foi ele quem fez o seu curriculum vitae. E não se estreou como jornalista. Os primeiros passos foram dados como locutora de continuidade e... apresentadora, ao lado de Mário Zambujal, no programa Grande Área. "Estava ladeado por duas Cristinas. A Cristina Esteves e a Cristina Valente. Foram duas excelentes colegas. Ela, além de se expressar muito bem, é uma mulher inteligente, e na altura já previa que ela singrasse na carreira. Só não sabia exatamente onde chegaria", ri-se o jornalista e escritor. "Ela quando trabalhou comigo era uma menina. E agora é uma mulher, o que lhe dá sempre um tom de mais saber, de mais autoridade, sobretudo na informação. Era uma rapariga com energia natural. Dizia que tinha genica para os sacrifícios e coragem para enfrentar as coisas, mas ao mesmo tempo era muito simpática e muito boa ouvinte e não me recordo de nada que ela não ouvisse com muita atenção", diz. E será que Cristina Esteves poderia ter dado uma boa apresentadora de entretenimento? "Não tenho a menor dúvida de que sim. A Cristina tem muito poder de comunicação e não vejo que tivesse qualquer dificuldade em programas de entretenimento", aponta Mário Zambujal.

A chorar por culpa de Bush

Em 1996 enveredou pelo mundo do jornalismo e não mais parou. Foi repórter na área da justiça, chegou a pivô na RTPN, atual RTP Informação, e desde o ano passado é pivô do Telejornal. Florbela Godinho, outra amiga de Cristina Esteves e colega na RTP, recorda um episódio marcante. "Lembro-me de ela se desatar a rir quando o Bush filho tinha que fazer a bênção do Peru no dia da Ação de Graças e o que aconteceu foi que demos essa imagem do peru a ser benzido e a ser salvo, como acontece nos EUA. E aquilo, de facto, era uma cena caricata e ela desata-se a rir. Houve uma troca de galhardetes para o estúdio: quando as imagens estão no ar e as pessoas não estão a ver, costuma haver alguma descontração. Mas a peça acabou, ela não se conteve e entra no ar a chorar a rir. Estava em lágrimas completamente. Deu a volta à situação, mas não escondeu aquele lado humano perante a situação caricata", conta.

Humana... mas profissional. Quem o diz é Paulo Ferreira, diretor de Informação da RTP, que acaba de a escolher para contracena de José Sócrates no novo espaço de opinião do ex-primeiro ministro. "Ela é a pessoa certa para lidar com uma pessoa como Sócrates. É uma entrevistadora dura, mas sempre com um tom sereno. E faz toda a diferença em quem entrevista. Consegue tudo o que quer", explica. Persistente, muito organizada, inteligente, teimosa, simpática, de sorriso fácil e... "muito vaidosa", diz Paulo Ferreira. "Não lhe fica mal de todo, até porque é uma senhora", justifica o diretor de Informação.

Quem a conhece bem não tem dúvidas: "é esquisita na hora de comer"."Não gosta de borrego, não gosta de pato, não gosta de cabrito, de favas. Não gosta de muita coisa. Mas gosta de bacalhau com natas, de comida alentejana, uma boa "carninha alentejana" com uma "amiguinha de espargos"", frisa Tina.

Fã de música clássica, gosta de Nat King Cole, "adora" Bon Jovi, U2 e Evanescence, "sobretudo pela vocalista". Viciada em chocolate, é adepta do Benfica, gosta de ir a espetáculos, a concertos e ao cinema. E também de andar a pé, apesar de "não ter muito tempo para isso"

Desde pequena que a jornalista fazia sucesso entre os rapazes. "Ela sempre foi e continua a ser um borracho. Tinha muitos pretendentes, mas não aceitava todos. Era altamente seletiva", ri-se a amiga Cristina. Mas foi Luís, o atual marido e com quem esta casada há 17 anos, que conquistou o seu coração, depois de sete de namoro. "Foi um casamento de sonho, como ela tinha idealizado", diz a irmã. Da união resultaram três filhos: Frederico, de 13 anos, Sofia, de 10, e Francisca, de 3.

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