A aventura de Conceição no Inter durou dois anos e não deu títulos

O atual treinador do FC Porto defronta esta noite na Champions o clube italiano onde não teve uma relação fácil com o técnico Héctor Cúper e perdeu a hipótese de repetir a vitória na Serie A na última jornada de 01/02 frente à Lazio, num jogo em que Simone Inzaghi marcou.
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Início de julho de 2001. Pouco depois de Rui Costa, atual presidente do Benfica, trocar Florença pelo AC Milan, outro internacional português rumava à cidade do norte de Itália, mas para envergar a camisola do rival Inter. Ele mesmo, Sérgio Conceição, que depois de três anos no calcio ao serviço de Lazio (onde conquistou seis troféus: uma Serie A, duas Taças, uma Supertaça, uma Taça das Taças e uma Supertaça Europeia) e Parma (para onde foi "obrigado" a mudar-se no âmbito da contratação de Hernán Crespo pelos romanos - "acho que merecia mais respeito", disse então) optou por prosseguir a sua carreira com a camisola nerazzurra, que hoje (20.00, TVI) voltará a ver do banco dos visitantes no confronto dos oitavos de final da Liga dos Campeões frente ao seu FC Porto.

"A proposta era irrecusável. Estou contentíssimo com esta ida para o Inter, clube no qual poderei dar continuidade a tudo o que de bom alcancei em Itália, particularmente na Lazio", confirmou então o internacional português ao diário A Bola, depois de uma época que não lhe correu de feição, quer por culpa das lesões quer por se ter desentendido com um dos treinadores que nesse ano dirigiu os parmesões. Ainda assim, foi lá que se cruzou com Arrigo Sacchi, o técnico "em que mais se reviu", segundo confessou posteriormente.

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E assim, numa sexta-feira 13, o atual técnico dos dragões foi apresentado como reforço numa cerimónia "com pouca circunstância e nenhuma pompa", segundo descreveu o Record - ainda que presenciada por "um batalhão de jornalistas" e desejada por uma multidão de adeptos do Inter ansiosos por ver o ex-laziale com o 7 nerazzurro -, uma vez que a sua contratação não era propriamente grande novidade. Com transmissão em direto no canal do Inter, Sérgio Conceição assinava um vínculo de quatro temporadas (acabaria por só cumprir duas) num negócio a rondar os 2,75 milhões de contos (12,7 milhões de euros) segundo a imprensa da época e que envolvia a transferência do guarda-redes Frey no sentido inverso.

No Palazzo Durini, sede do clube milanês, e acompanhado pela antiga glória Giacinto Fachetti (falecido em 2006), o extremo então com 26 anos mostrou-se disposto a levar ao Inter "um pouco da sua sorte, uma vez que o clube já não alcança títulos há muito tempo": "Tenho conquistado sempre qualquer coisa em Itália. Por isso, espero trazer as vitórias para o Inter. Se não estivesse à procura de vitórias, então ficava no Parma. Talvez tenha dado nas vistas porque o ano passado marquei dois golos ao Inter, aqui em Milão. Depois, quando visitaram Parma, ganhámos por 1-0 e... também fui eu quem fez o golo. Mais a sério, o principal é dar sempre o melhor".

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Numa altura em que os clubes italianos dominavam o futebol europeu (na época seguinte foram três entre os semi-finalistas da Liga dos Campeões), Sérgio Conceição integrou então um plantel luxuoso (como já o eram os da Lazio e do Parma): só na frente havia Ronaldo "Fenómeno", "Imperador"Adriano e Vieri, além de Kallon e Recoba; lá atrás, Toldo, Javier Zanetti (hoje vice-presidente do clube), Di Biagio, Seedorf, Iván Cordoba, Simic, Marco Materazzi, Dalmat, Simic...

"Este é um clube recheado de estrelas. É um prazer vir para este grande clube e jogar ao lado de pessoas como Ronaldo e Vieri, que já sei que vai ficar. Sempre disse que ele é o melhor avançado do mundo quando está em boa forma. É o jogador que gosto de ver na área quando faço os meus cruzamentos", admitiu na altura o internacional português.

E, a 26 de agosto de 2001, no Giuseppe Meazza, Sérgio Conceição estreou-se oficialmente pelo Inter, jogando 84 minutos na goleada sobre o Perugia (4-1), com Kallon e Vieri a bisarem.

No entanto, a passagem do extremo por Milão acabou por não ser totalmente positiva. A relação com o técnico argentino Héctor Cúper nem sempre foi a melhor e sua utilização no onze algo intermitente, o que com a personalidade do português acabou por dar problemas. Ainda assim, em 2002, o jogador confessava uma conversa de "30 ou 40 minutos", em que ambos "disseram o que sentiam". "Sofri, mas agora vivo um belo momento. É preciso dar-lhe continuidade", assinalou.

Não aconteceu. E, pior ainda, Sérgio saiu da Lombardia sem conquistar qualquer troféu. Em dois anos, fez 64 jogos oficiais (45 a titular e 19 como suplente utilizado, num total de 3977 minutos), apontando apenas dois golos (um à Udinese, no primeiro ano, para a Serie A, e o outro na Taça, no segundo ano, perante o Bari, que não evitou a eliminação), a que juntou dez assistências. Viu sete amarelos e um vermelho (em setembro de 2002, já nos descontos frente ao Chievo).

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Ainda assim, na sua primeira época, o Inter foi terceiro classificado, perdendo o título de forma dramática: chegando à última jornada no primeiro lugar, bastava-lhe vencer a Lazio em Roma para chegar ao scudetto. Ao intervalo, 2-2, que se desfez na segunda metade para os homens da casa, que marcaram por Diego Simeone e... Simone Inzaghi - o técnico que Sérgio (jogou 60 minutos nessa partida) vai ter agora pela frente.

No segundo ano, um segundo lugar e o afastamento nas meias-finais da Liga dos Campeões (prova onde "apadrinhou", na pré-eliminatória, a estreia de Ronaldo pelo Sporting) frente ao rival AC Milan, de Rui Costa, pela regra dos... golos fora. A 24 de maio despedia-se do Inter, frente ao mesmo adversário da estreia, o Perugia (2-2). E, a 29 de julho, sem entrar nos plano de Cúper e com um salário elevado, era anunciada a rescisão amigável. "Sou um jogador livre e vou procurar um novo clube. Foi um acordo fácil de obter", disse então.

Quase 20 anos depois, será o regresso ao Giuseppe Meazza, esta noite, agora como treinador do FC Porto.

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