102 projetos mostram vitalidade da arquitetura japonesa entre 1996 e 2006
Fotografias de grande escala, plantas e maquetas de 102 projetos formam a exposição Parallel Nippon que, no Museu do Oriente, em Lisboa, mostra as soluções criativas encontradas pelos arquitetos japoneses para responderem às mudanças da sociedade no Japão após a depressão económica do início da década de 1990. Centrando-se na década de 1996-2006, os projetos expostos pertencem a ateliers e arquitetos consagrados, cinco deles vencedores do Prémio Pritzker - Toyo Ito (2013), Shigeru Ban (2014), a dupla Kazumo Sejima e Ryu Nishizawa (2010), Tadao Ando (1995), Kenzo Tange (1987) - ou ainda Sou Fujimoto, presença assídua, nos últimos anos, quando se fala nos possíveis vencedores do mais conceituado galardão mundial na área da arquitetura.
Dividida em quatro secções - Cidade, Vida, Cultura e Habitação - os projetos apresentados incluem infraestruturas urbanas como aeroportos e estações de metro, hospitais, universidades, museus, sedes de empresas e edifícios administrativos, lojas de luxo, casas particulares, blocos de apartamentos, jardins e locais de culto.
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Em jeito de contextualização, e mesmo antes do início da visita, Manuela d'Oliveira Martins, diretora do Museu do Oriente, lembra que o início da década de 1990 no Japão foi marcado por uma profunda crise económica. "Os projetos aqui expostos correspondem a um período de grande mudança, na era pós-bolha, um período de transição em que se pensava que os terrenos urbanos iam num crescendo de valorização".
Destruído o mito do eterno aumento dos terrenos imobiliários urbanos e com uma taxa de natalidade em quebra e uma população envelhecida, a sociedade japonesa enfrenta novos desafios. Situação que leva "os arquitetos japoneses a repensar a arquitetura que ao mesmo tempo passa a ser cosmopolita mas também rural, virada para a comunidade, para a integração humana, com edifícios mais baixos, mais marcados por uma identidade local e não tanto por uma tentativa de sofisticação global e monumental", refere.
E a exposição mostra precisamente que as novas soluções arquitetónicas passam por diferentes escalas, lógicas de utilização, integração de tecnologias e uma forte relação com a natureza e o meio envolvente. A que se junta também uma preocupação com os materiais utilizados. Rita Paredes, diretora de coordenação cultural do museu, exemplifica com um dos projetos apresentados logo no primeiro núcleo: "O Pavilhão do Japão na Exposição de Hannover é feito em papel enrolado em tecido." Para além de salientar a mistura de materiais e a preocupação com a reciclagem, Rita Paredes evidencia outro aspeto: "Por mais sofisticado que seja o conceito vai-se buscar muita informação, conhecimento e possibilidades de respostas às técnicas e aos materiais tradicionais."
Outra solução apresentada por alguns arquitetos passou pelo aproveitamento de edifícios já existentes, como uma antiga alfândega adaptada a biblioteca.
Segunda função em mente
No núcleo seguinte, o da Vida, há de tudo, desde um infantário até um crematório, passando por universidades e templos religiosos. Aqui, Manuela d'Oliveira Martins evidencia duas preocupações sociais a que os arquitetos pretendem dar resposta: "Com a redução do número de crianças, quando se constroem jardins-de-infância de raiz, essas estruturas são logo pensadas para poderem vir a ter uma segunda função, por exemplo abrigos em caso de terramoto ou outra fatalidade." Por outro lado, com o envelhecimento da população, "as universidades estão a ser preparadas para poderem ter alunos idosos ou com deficiência". Aliás, sublinha, a questão da acessibilidade "é uma preocupação sempre presente, minimizando-se os entraves à mobilidade e privilegiando-se a flexibilização do espaço".
Aqui veem-se também intervenções em crematórios ou cemitérios, integrando na paisagem edifícios mais sensíveis de forma a espelhar a perspetiva dos japoneses perante a morte. O Memorial da Paz de Hiroxima(2002), de Kenzo Tange, é um dos destaques.
No núcleo dedicado à Cultura surgem diversos exemplos, refletindo o crescente investimento a nível regional em equipamentos culturais, e também uma nova forma de pensar os espaços. Como no emblemático Museu de Arte Contemporânea do século XXI (2004), de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (atelier SANAA), um espaço fluido, onde não há um percurso museológico predefinido. "Há uma aleatoriedade que se acredita ser adequada a um museu do século XXI - espelhando a permeabilidade da cultura contemporânea e da sociedade da informação. Circulação sem barreiras, tal como na internet, cada um escolhe o seu caminho", refere Rute Paredes.
A última secção é dedicada ao que em arquitetura se chama o grau zero da construção: a Habitação. Também aqui, os projetos evidenciam o retorno a uma sensibilidade tradicional de trabalhar o espaço, os materiais e as técnicas.
A exposição termina com exemplos de origami arquitetónico, de Masahiro Chatani - um reconhecido origamista que trabalhou na transição entre o origami, a dobragem em papel, e o kirigami,o recorte em papel, que cria um efeito pop-up, conferindo a dimensão 3D ao origami. A exposição termina a 28 de agosto, mas em outubro haverá um workshop de origami inspirado nos trabalhos deste mestre.