A menos de 50 minutos do fim do debate, Fernanda já segue no autocarro de regresso a Valongo, de onde abalou de madrugada com meia centena de conterrâneos rumo à capital. Luís e Manuela já retomaram as férias em Lisboa, depois do interregno para verem ao vivo o primeiro-ministro, e Bruna já trocou o retrato da Nação pelo emprego de Verão. .O debate vai morno e poucos resistem nas galerias que se encheram durante a tarde, sem agitação nem reptos em alta voz. Mas dois saltam à vista. Tomás e Bernardo, aprumados na farda do Colégio Militar, não desarmam. .Ainda nem têm 18 anos, mas não precisaram de acompanhante para representar a juventude no local destinado ao povo. "Viemos porque temos um interesse comum: a política", atira Tomás, com a confiança na ponta da língua e o ar sério de quem sabe o que diz. Ao lado, Bernardo não desprega o olhar de Sócrates, que continua a traçar um retrato ao País que não encontra eco nos que se sentam nesta bancada. "Ouviste, ouviste", pergunta ao colega do lado..Já não é a primeira vez que assistem ao debate e não hesitam em apontar a este mais "nervosismo" no ar. Tomás até aprecia o confronto de ideias, mas lamenta a "falta de correcção na atitude" dos deputados, a quem se "devia exigir mais coragem e respeito porque não estão aqui a fazer um favor aos portugueses mas a servir a Nação". E aos 16 anos já tem uma solução para o assunto: "deviam deixar de ser só políticos, para não dependerem financeiramente da política e não serem condicionados pelos interesses pessoais". Na avaliação dos discursos dão nota positiva ao CDS, partido em que já se filiaram por "ser o único que realmente apresenta propostas". .Bruna Barros, de 18 anos, sai a correr quando Sócrates termina a intervenção inicial. "Foi uma experiência interessante. Mas ele disse que o desemprego está a descer e a pobreza a diminuir, e eu lá fora só vejo as pessoas a reclamar. Alguma coisa não bate certo", desabafa esta universitária lisboeta. .Do debate, Luís Nunes e Manuela não levam grande novidade. "A crise bem pode aumentar que as coisas aqui dentro estão sempre bem", diz o electricista de Freamunde, admitindo que na discussão até chegou a "pegar sono". .-À mulher é o desemprego que preocupa, pois aos 55 anos sabe que será difícil substituir a tarefa na fábrica que fechou há três anos por outro emprego que ajude a pagar as contas lá de casa. .Apesar da humildade, e de reconhecer que na arte de governar é mais fácil falar do que fazer, não perdoa o reparo aos senhores que traçam os destinos à nação. "Quando eu trabalhava, ficava oito horas seguidas em pé e tinha de dar produtividade à patroa. Aqui é uma tristeza. Os bancos estão vazios e está tudo ali na conversa", critica. Por isso, se do lugar do povo, onde se assiste em silêncio, pudesse botar palavra, diria com autoridade: "que falta de respeito!". .Já ao primeiro ministro, pediria apoio ao emprego. Não sem antes lhe dar um abraço e um beijo!