Massacre de Columbine. Como é ser mãe de um assassino?

Depois de mais de 15 anos a questionar-se sobre as motivações do filho Dylan, Susan Klebold continua a pensar se podia ter feito algo para evitar o massacre
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A 20 de abril de 1999, Dylan Klebold, de 17 anos, e Eric Harris, de 18, entraram no liceu de Columbine, onde ambos estudavam, e mataram 12 estudantes e um professor, antes de se suicidarem dentro da biblioteca. Dezassete anos após o massacre na escola do Colorado, Susan Klebold, mãe de Dylan, conta como tem sido viver com a culpa de ter criado um assassino em série. No livro A Mother"s Reckoning, fala sobre a educação do filho e os sinais que não viu, garantindo que dava a sua vida para corrigir o que aconteceu naquele fatídico dia. Confessa, inclusive, que chegou a rezar para que o filho morresse. "Alguma coisa tinha de pará-lo."

Susan trabalhava com crianças deficientes e Tom, o marido, era geofísico. Eram "pais carinhosos e atentos" e tinham uma vida aparentemente normal. Mas o comportamento do filho vinha a mudar. Um ano antes do massacre, Dylan e Eric já tinham sido detidos por roubar material eletrónico do interior de uma carrinha. Mas nem mesmo quando Dylan pediu aos pais uma arma como prenda de Natal Susan imaginou que o seu filho pudesse estar a planear abrir fogo na escola que frequentava. Recusou o pedido, longe de pensar que Dylan estava a preparar-se para, juntamente com o amigo, montar um arsenal.

Alguns anos depois do massacre de Columbine, os dois jovens foram descritos como adolescentes com sérios problemas psicológicos. Enquanto Eric era visto como um psicopata predador, Dylan era depressivo suicida e paranoico. Os sinais da depressão foram sendo dados, reconhece Susan, mas mal interpretados. Durante um ano, prepararam o ataque, que tinha como objetivo fazer explodir a escola. Além das armas, reuniram perto de cem explosivos caseiros.

Citada pela BBC, Susan conta como viveu em negação durante os primeiros tempos. "Eu não sabia que ele era um assassino. Na minha cabeça, não tinha como aceitar que ele era um assassino... Só acreditei passados seis meses, quando vi o relatório da polícia."

Para o mundo, escreveu, seria melhor se o filho não tivesse nascido, mas para ela não. Reconhecendo que pode ser difícil para os sobreviventes ouvi-lo, diz que amava o filho e que, apesar de toda a dor, Dylan também lhe deu muitas alegrias ao longo da vida.

Nas vésperas do ataque, os dois jovens gravaram um vídeo, no qual exibiam as armas. Susan confessa que ficou chocada quando assistiu à gravação: da expressão de superioridade na cara do filho ao uso de palavras depreciativas, não era aquele o Dylan que conhecia. Numa entrevista ao The Guardian, Susan disse que acreditava que o filho sofria de algum tipo de problema mental, pois o Dylan com quem vivia era um rapaz "amável e atencioso".

Condenação popular

Familiares das vítimas, sobreviventes e uma parte da população em geral viraram-se contra Susan. De certa forma, era vista como culpada, uma reação que disse compreender. A tragédia que tomou conta da família fez que começasse a olhar para os criminosos com outros olhos. "É o filho de alguém", justificou. Desde então, a mulher tenta encontrar respostas para o que aconteceu.

Susan Klebold acredita que devem unir-se esforços na investigação e na consciencialização para o problema das doenças mentais, para que se evite o sofrimento de quem está doente e se protejam eventuais vítimas. Por isso, as receitas do livro revertem na íntegra para associações dedicadas à saúde mental.

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