Comendador em 2006, Cavaleiro em 2016 e agora... condenado. Diogo Gaspar, ex-diretor do Museu da Presidência, ouviu esta segunda-feira a sentença de condenação a seis anos e seis meses de prisão efetiva, com o juiz a dar como provada a prática de 18 crimes - sete de peculato, quatro de participação económica em negócio, quatro de abuso de poder, dois de falsificação de documentos e um de tráfico de influência. O advogado de Diogo Gaspar já anunciou que vai recorrer..O reconhecimento dado por dois chefes de Estado ao antigo responsável do Museu da Presidência acabou por pesar, mas em seu desfavor. "Foi o senhor que basicamente conseguiu montar o Museu da Presidência. Era uma pessoa digna de confiança, pelo que tinha uma relação muito estreita com os presidentes da República. E traiu essa confiança, porque quis ter mais do que aquilo que podia ter. Isso levou-o a, durante vários anos, no âmbito de várias atividades, vários negócios, a tentar sempre [ver] onde é que havia oportunidade de ganhar mais alguma coisa", sustentou o juiz Luís Ribeiro, na leitura do acórdão, no Juízo Central Criminal de Lisboa. Os restantes três arguidos foram condenados a penas suspensas, sobretudo pelo crime de participação económica em negócio..O processo que agora resultou na condenação a prisão efetiva do antigo diretor do Museu da Presidência começou em abril de 2015, motivado por uma denúncia anónima que deu origem a uma investigação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa. Na sequência, em junho de 2016 a Polícia Judiciária lançou a "Operação Cavaleiro", com buscas a dez locais - entre os quais a casa de Diogo Gaspar - tendo então apreendido "diversos bens culturais e artísticos que, presumivelmente, terão sido descaminhados de instituições públicas" - e que foram encontrados na casa do diretor do Museu da Presidência, bem como na casa de amigos. Diogo Gaspar foi detido. Marcelo Rebelo de Sousa prometeu então total colaboração com as autoridades. "Não tendo embora sido uma escolha minha, espero que possa provar a inocência. Mas o que é facto é que os portugueses esperam que na Presidência da República, como em todas as instituições, a justiça se aplique sem discriminações", afirmou Marcelo..Foi o próprio Presidente da República a definir então Diogo Gaspar como "um funcionário diretor de serviço antigo, muito conceituado". Diretor do Museu da Presidência desde a sua abertura, em 2004 - e em grande medida, responsável pela conceção daquele espaço - Diogo Gaspar tinha sido agraciado, apenas quatro meses antes de ser detido, com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Sant"Iago da Espada, que se destina a "distinguir o mérito literário, científico e artístico". Insígnias que foram atribuídas por Cavaco Silva, pouco antes de deixar o Palácio de Belém - e não foram as primeiras. Em 2006 tinha já sido agraciado por Jorge Sampaio com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique, atribuída a "quem houver prestado serviços relevantes a Portugal, no País e no estrangeiro, assim como serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, da sua História e dos seus valores"..Nascido em Lisboa a 23 de Abril de 1971, Diogo Gaspar licenciou-se em História em 1993 (na variante de História de Arte), pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a mesma faculdade onde viria a concluir o curso de especialização em Ciências Documentais, cinco anos depois. De acordo com a nota curricular publicada aquando da nomeação para o cargo de diretor do Museu da Presidência, começa por trabalhar (desde 1995) no Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo e, em setembro de 2001, torna-se coordenador do Museu da Presidência da República. "Foi responsável pela definição do programa museológico e do projeto museográfico e, ainda, pelas mais diversas tarefas no âmbito da implementação do Museu, nomeadamente a aquisição e incorporação, por doação ou depósito, de espólios documentais de antigos presidentes da República, a preparação de mais de uma dezena de concursos com vista à aquisição dos mais diversos serviços e equipamentos, a estruturação da campanha de mecenato cultural e a implementação dos diversos serviços". Um percurso que o conduz à direção do Museu, quando este abre, em 2004 - tinha então 33 anos - e no qual se manteria até 2016..Um percurso que, veio sustentar depois a acusação do Ministério Público, esteve longe de ser tão exemplar como parecia, com a Procuradoria-Geral da República (PGR) a dar conta, logo em 2016, de suspeitas de "apropriação de bens móveis públicos" e "uso de recursos do Estado para fins particulares". Diogo Gaspar - que sempre reclamou inocência, dizendo ser alvo de uma cabala - terá montado um esquema fraudulento para comprar móveis do próprio Museu e do Palácio da Cidadela, durante a reabilitação deste espaço, em 2009, bens que o próprio tinha declarado para abate, promovendo também a contratação de firmas dos restantes arguidos, seus amigos, pelos serviços da Presidência. Diogo Gaspar estava acusado de 42 crimes. Foi condenado por 18. Com Lusa.susete.francisco@dn.pt