'Simpsons', os reis das polémicas religiosas

A última polémica aconteceu na Turquia, por causa de um episódio em que Deus obedece às ordens do Diabo e Homer queima a Bíblia. A religião cristã é uma das mais visadas, mas o judaísmo, o islamismo e o hinduísmo também não escapam.
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A religião, a par das críticas políticas e sociais, é um dos temas que estão quase sempre omnipresentes em Os Simpsons. Ao longo das 23 temporadas da série animada criada por Matt Groening, mais de 150 episódios estiveram relacionados com as diferentes crenças religiosas, o que nem sempre deu bom resultado...

A última polémica aconteceu há algumas semanas, na Turquia, quando foi para o ar um episódio em que Deus serve uma chávena de chá ao Diabo e Homer queima a Bíblia. O Alto Conselho do Audiovisual turco (RTUK) aplicou uma multa de 22 600 euros ao canal de televisão CNBC-E, que exibiu o programa. O órgão regulador entendeu que o episódio em causa de Os Simpsons gozava com Deus e considerou também que os jovens foram incentivados (por Deus) a beber álcool na passagem de ano. "A Bíblia é publicamente queimada e Deus e Satã são mostrados sob a forma de humanos", denunciaram as autoridades citadas pelo jornal Hurriyet.

Noutro episódio, Homer Simpson desmaia e, ao acordar, alerta que há problemas no futuro. Chamado a explicar esse comportamento, o pai de Bart, Lisa e Maggie folheia a Bíblia e resmunga: "Este livro não tem resposta nenhuma." Em seguida pega num isqueiro e queima o livro. Na altura, Matt Groening revelou que já estava à espera de uma onda de críticas. "Nos Estados Unidos há sempre alguém disposto a fingir que está ofendido, por isso incomodamos as pessoas, e isso faz parte do apelo. É para entreter as pessoas e também para incomodar um certo segmento da audiência", atirou o criador desta série animada norte-americana.

Em agosto deste ano, o grupo religioso Comissão Nacional sobre Assuntos para Defesa da Moral Ucraniana pediu a proibição de Os Simpsons na televisão ucraniana por considerar que a série exerce uma influência negativa sobre as crianças daquele país. O relatório foi publicado no site católico Família sob a Proteção da Santíssima Virgem e acusa esta e outras séries de profanarem os valores veiculados pela sua religião.

Mas o cristianismo está longe de ser o único visado em Os Simpsons. Num dos episódios desta série, Homer convence os amigos de que os seus vizinhos provenientes do Médio Oriente planeiam explodir um centro comercial de Springfield (cidade ficcional onde se desenrola a série) e descobre mais tarde que Amid, o chefe da família muçulmana em questão, trabalha para uma companhia de demolição. Quando convida a família vizinha para um jantar, Homer demonstra a sua ignorância em relação ao islamismo, chamando a Alá "Oliver" e ao Alcorão "A Coroa".

Perante isto, um porta-voz do Centro Cultural Islâmico e da Mesquita Central de Londres acusou o programa de incentivar o preconceito contra o islamismo e recomendou que os muçulmanos não assistissem mais à série. Já o criador da família amarela mais famosa do mundo defendeu o episódio ao dizer que os desenhos "trabalham com estereótipos" e "nós tratamos de ser sensíveis a esse respeito".

Nesse sentido, Springfield está povoada de personagens que representam várias religiões. Lisa Simpson, filha sobredotada de Homer e Marge, é budista. Apu, que é dono de uma loja de conveniências, é hindu. Ned Flanders, vizinho da família amarela, é protestante. Já Krusty, o palhaço, é judeu.

No episódio em que Krusty decide reconciliar-se com a sua fé e faz o bar mitzvah (cerimónia religiosa que marca a passagem para a idade adulta) vários judeus aparecem em volta de um tabuleiro com um porco assado, sátira ao facto de as pessoas que seguem esta religião não comerem carne de suíno.

A série também brinca com o facto de o hinduísmo se tratar de uma religião politeísta e não são poucos os episódios em que Apu roga a um deus diferente sempre que está num momento de aflição.

Há pouco mais de um ano, o jornal do Vaticano, L'Osservatore, fez um artigo em que afirmava que Homer era católico e que a série abordava questões como a família, a comunidade e a religião. Al Jean, produtor de Os Simpsons, apressou-se a desmentir este facto: "Acho que já deixamos claro que Homer não é católico."

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