Oreo em grego significa óptimo, bom, bem-estar, palavras que exprimem doçura e joie de vivre. Chego a Leros e ensinam-me esta primeira palavra, premonitória e inaugural da minha volta por ilhas do mar Egeu. Vou parar ao bed and brekfeast do senhor Boulacentis, de ambiente familiar como nos romances ingleses do século passado e pequeno-almoço com pão e compotas. Leros é recortada por baías pronunciadas e amplas, morros a pique, casario sobre a água e uma primeira linha pé na areia. A água é transparente com cores que acompanham o percurso solar e nas baías fundeiam barcos à vela que formam como que um outro casario. Ali vai se mais ao mar do que à praia e nunca a uma única praia: o dia é um largo passeio de cala em cala, de enseada em enseada - Merikas, Coluki, Panagias- com incursões em terra firme para ver as ermidas, os moinhos, o castelo dos Templários no alto dos montes escarpados e nus, antes das primeiras casas, dos eucaliptos e pinheiros mansos, das oliveiras retorcidas, das figueiras e dos enormes maciços de buganvília. Há moinhos em terra, no mar e, à noite, há-os iluminados tão lá em cima que parecem aéreos, prontos a partir de velas enfunadas. As capelinhas e ermidas são tantas que as não podemos contar, estão sempre abertas e sem vigilância, confiadas na devoção de quem entra: em todas, a primeira imagem que se vê é a da Virgem segurando o Menino. Tomo um longo banho ao largo de Bromolithos e apercebo-me de quão salgado é este mar. O meu corpo perde toda a densidade e fico suspensa, sem nada que me tolha ou pese. Pouco antes o meu relógio caiu e deixou de dar horas. A minha libertação é total. Oreo!.Partimos para Liepsoi (de Calipso), uma pequena ilha com uma única povoação, um porto e uma praça. A primeira impressão vem do sossego quase absoluto e do silêncio apesar de serem muitos os barcos que ali se encontram. O casario é harmonioso com uma definitiva vocação branca e turquesa e um número inusitado de capelinhas e ermidas para além da igreja da Virgem de Charou construída no século XVII. Àquela hora não se vê quase ninguém e precipitamo-nos para tomar uma "bica" numa das muitas tabernas e cafés mas a tentação de um banho leva-nos a uma entrada intempestiva na água onde uma medusa nos ataca provocando violenta urticária. Na volta ouço cânticos poderosos: as portas da igreja estão abertas de par em par. Será feriado? O porto anima-se com movimento entre água e terra, os velejadores cumprimentam-se, trocam informações e impressões. São gente do mar, habituada a viver meses embarcada e a enfrentar longos cursos sem outra tripulação que eles próprios. São pessoas que, na sua maioria, decidiram um dia mudar de vida. Ao nosso lado um casal francês sexagenário vive seis meses na Bretanha e seis meses navegando por estes mares. Um outro casal americano ainda mais velho trouxe o barco desde os Estados Unidos e por aqui andam. Um outro ainda, que se divorciou, junta-se cada ano para esta temporada no mar.. Saímos ao fim da tarde pelo dédalo das ruas estreitas rentes aos muros brancos e às sardinheiras de muitos tons. Um homem vende esponjas acabadas de "pescar" com garantia de cinco anos... compramos um chapéu, duas tigelas pintadas à mão, jantamos na Taberna Theologos polvo grelhado e carapaus com vinho branco resinoso e azeitonas grandes. Um velho começa a dançar aos primeiros acordes do Zorba, umas italianas acompanham-no e depois vamos nós e por fim a praça é toda ela dança e risos. Tudo aqui é natural, sem qualquer sofisticação. As pessoas, tal como as terras e os alimentos que tomamos. A vida passa-se ao ar livre numa bebedeira de oxigénio. Os cabelos estão sempre molhados, os pés descalços. A bordo cumprem-se rotinas simples, cozinhamos, pomos a roupa a secar, lavamos a loiça. Compramos melancia, meloa, beringelas, alfaces em pequenas frutarias. Bebemos vinho branco com um travo a resina. Não há gente a mais, nem barulho a mais, nem gestos ou palavras a mais. Oreo!.Para a semana conto o resto.