'Katrina' faz estragos políticos

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O furacão Pam atingiu Nova Orleans, causando 61.290 mortos, 187.862 feridos e 196.395 doentes. Afectou mais de 600 mil residências e 6 mil empresas, dois terços das quais ficaram destruídas, e "levará mais de um ano até que possamos entrar nas zonas atingidas". É um cenário de ficção mas, em Julho de 2004, serviu à Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) como hipótese de trabalho para uma situação deste tipo.

Nessa altura, 270 peritos reuniram-se no Luisiana para trabalhar a simulação. O relatório, de 412 páginas, precisava que "o apoio federal deve ser dado a tempo de salvar vidas, evitar sofrimento humano e mitigar os prejuízos graves" e, segundo o Plano Furacão Pam, o governo federal poderia actuar sem esperar por um pedido das autoridades locais. O primeiro relatório ficou pronto em Dezembro de 2004, e em 23 e 24 de Agosto deste ano representantes de 80 agências locais, estaduais e federais reuniram-se em Carville, Luisiana, para estudar a resposta médica ao Pam. Daí resultou um relatório sobre a forma como deveriam ser tratados os mortos e feridos, que foi entregue na sede da FEMA, em Washington, a 3 de Setembro. Infelizmente, o Katrina chegou primeiro a Nova Orleães.

O grupo de trabalho tinha pedido às autoridades locais que apresentassem planos para a evacuação do meio milhão de "refugiados" previstos e adiantassem quais as zonas livres onde poderiam ser estabelecidos centros de acolhimento. O prazo para as autoridades locais apresentarem propostas termina em Outubro...

Mike Brown, o director da FEMA, diz que foi sempre mantido ao corrente dos progressos do relatório e que o mesmo terá sido enviado aos seus superiores no Departamento de Segurança Interna. Mas a quem? Brown responde "Se o entreguei nas mãos do secretário Ridge ou do secretário Chertoff? Não" e "tenho quase a certeza que não chegou à Casa Branca".

Mas nem a antecipação "traiçoeira" do Katrina nem a explicação de Brown parecem ajudar a administração Bush. Segundo uma sondagem publicada ontem pela Newsweek, a popularidade do presidente norte-americano é a mais baixa de sempre, não ultrapassando os 38%. Para tentar reparar os estragos políticos, Bush visita hoje de novo a zona.

Em Nova Orleães prosseguem as operações de evacuação, mas ainda sem recurso à força.Os militares tomaram o comando e o mayor e o chefe da polícia têm a seu cargo as operações de remoção dos habitantes da cidade e a manutenção da ordem pública. O Corpo de Engenharia do Exército anunciou que a água das inundações estará escoada dentro de um mês, menos do que os 80 dias anteriormente previstos. Das 174 bombas fixas estão em funcionamento cerca de 40, auxiliadas por mais 17 bombas portáteis. Quanto ao aeroporto Louis Armstrong, vai ser aberto ao tráfego comercial já na próxima semana.

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