Justiça. Caso remonta aos anos 90 .Processo pode cair no esquecimento dadas as relações Paris-Luanda .O Tribunal correccional de Paris inicia hoje o processo daquele que é um dos maiores escândalos da V República: 40 altas personalidades francesas são acusadas de envolvimento, durante os anos 90, no comércio ilegal de armas russas que permitiu ao regime angolano derrotar a UNITA..A visita do Presidente Nicolas Sarkozy a Angola, em Maio passado - a primeira de um chefe de Estado francês em dez anos - ameaça condenar ao esquecimento o processo "Angolagate". O reinício das relações diplomáticas e económicas entre Paris e Luanda terá passado pelo abandono das acusações contra cerca de 15 altos dignitários angolanos que teriam recebido mais de 55 milhões de dólares em comissões ocultas, pela venda de carros de combate, helicópteros e munições russas a Luanda, contornando o embargo da ONU. .Um relatório da organização Global Witness em 2002 implicava o ex-embaixador angolano em Paris e o então chefe dos serviços secretos angolanos, no negócio realizado entre 1993 e 1998, entre Paris e Luanda e orçado em mais 790 milhões de dólares. No despacho do juíz Phillipe Courroye, figuram 40 personalidades francesas alegadamente envolvidas na rede de tráfico de influências, usadas pelos empresários Pierre Falcone e Arcadi Gaydamak para concretizarem o negócio. .Os dois intermediários incorrem numa pena de dez anos de prisão, por comércio ilícito de armas, abuso de bens sociais e tráfico de influências. Em 1993 criaram, na Eslovénia, a sociedade ZTS Ozos, que fornecia armas a Luanda para combater a UNITA, mas grande parte das negociações e contactos teriam passado pelo escritório da empresa, em Paris. Entre os suspeitos de tráfico de influências e abuso de bens sociais contam-se o ex-ministro do Interior francês Charles Pasqua, o seu antigo conselheiro, Jean Charles Marchiani, e o filho do antigo presidente francês François Mitterrand, Jean Mitterrand. Os suspeitos teriam recebido milhões de dólares de comissões ocultas para facilitarem os contactos com altos dirigentes angolanos e para manterem o silêncio sobre um negócio que carecia da autorização exigida pela lei francesa. Mas apesar da gravidade das acusações, o "virar da página" das relações entre Paris e Luanda, em nome de novos contratos petrolíferos, parece pôr em causa o processo. O ministro da Defesa francês, Hervé Morin, entregou, em Julho, uma carta ao advogado de defesa de Pierre Falcone, onde retira as acusações de 2001 contra o empresário, alegando que a justiça francesa não tem competência para julgá-lo, uma vez que o negócio não ocorreu em território francês..O processo vai durar seis meses e arrisca-se a ser sacrificado aos novos interesses franceses. O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos já foi convidado por Sarkozy a visitar em Abril a Paris, após a sentença.