"Rui Costa foi um autêntico professor para Kaká"

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Entrevista com Paolo Maldini, futebolista do AC Milan

Jogar com 39 anos ao mais alto nível é bastante complicado. Onde arranja todos os dias motivação para treinar?

É uma resposta fácil. Faço-o porque jogar futebol é o que mais gosto de fazer na vida. Gosto também de me sentir bem fisicamente e tenho a certeza que daqui a dez ou 20 anos vou continuar todos os dias a correr ou a fazer outro qualquer exercício físico. Não consigo imaginar a minha vida sem futebol e sem estar bem fisicamente.

Quando terminar o contrato com o AC Milan, em Julho de 2008, terá já 40 anos. Será o adeus ao futebol...

Será o adeus aos treinos diários, aos jogos no fim-de-semana, mas não será o adeus ao futebol. Não acredito que consiga ficar desligado quer do AC Milan quer do futebol. Termino contrato no final da temporada e já disse que não o vou renovar. Mas amo o futebol e quero continuar a sentir a adrenalina que a modalidade nos transmite. Veremos depois de que forma será.

Fez a sua carreira toda no AC Milan e agora, quando a acabar, o clube já anunciou que vai retirar a camisola 3 [número de Paolo Maldini] até que um dos seus filhos a possa envergar. O que tem a dizer sobre isto?

É um acto que me toca imenso. Amo o AC Milan e seria maravilhoso que o meu filho pudesse vestir a camisola deste clube. Sei que os adeptos têm um carinho especial por mim e espero que o possam ter também por um dos meus filhos que possam vir a vestir a camisola 3. Seria algo realmente fantástico.

Quando olha para trás, sente que houve alguma coisa que ficou por realizar?

Sinceramente, hoje posso dizer que tive uma carreira muito feliz durante todos estes anos. Não quero estar agora a pensar em coisas que não consegui. Fui feliz, é o que mais importa.

Disse que quer continuar no futuro ligado ao futebol. Já tem planos traçados?

Sim, uns meses de férias primeiro, depois volto ao futebol e ao AC Milan, para fazer o que for preciso. Lá para Fevereiro ou Março decidimos que funções devo vir a desempenhar.

Nos últimos cinco anos, a média de idades do AC Milan foi sempre superior a 30 anos, mas mesmo assim conquistaram um título italiano, duas Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias, uma Taça Intercontinental e, mais recentemente, um Mundial de Clubes. Qual é o segredo?

O segredo é o trabalho e nós temos a felicidade de nos últimos anos o núcleo da equipa nunca ter sido mudado. Temos alguns jogadores mais velhos, mas a experiência neste tipo de competições é cada vez mais importante.

Mas o que tem falhado a nível interno?

Nos últimos anos o campeonato não tem sido favorável. Temos feito maus inícios de época e no ano passado foram-nos retirados muitos pontos (devido ao escândalo Calciocaos) e depois, a certa altura, a desvantagem tornou-se irrecuperável. Tem de se fazer uma opção e nos últimos anos a opção do AC Milan tem sido pelas competições europeias. Felizmente, essa aposta tem corrido bem.

E o sucesso na Europa é fruto da experiência dos jogadores ou do talento de um jovem como Kaká, como muitos dizem?

Todos sabem que Kaká é fantástico e fundamental para nós, mas não faz sozinho uma equipa vencedora. O nosso sucesso é fruto do trabalho de todos, do trabalho em equipa. Esse, sim, é o nosso segredo.

Mas Kaká é ou não o melhor jogador do mundo?

Neste momento sim. É um jogador fantástico, com qualidades quase únicas. É jovem e tem tudo para ser o melhor nos próximos anos. Está numa equipa também fantástica e isso ajuda-o a vencer títulos individuais.

Este ano, Kaká superou Cristiano Ronaldo e Messi. Isso quer dizer que foi mesmo o melhor jogador da época?

Foi, sobretudo porque foi determinante para o Milan poder vencer uma prova importante como a Liga dos Campeões.

E que opinião tem de Cristiano Ronaldo?

Outro jogador fantástico. É também muito jovem e vai ser seguramente um dos melhores nos próximos anos. Está numa das melhores equipas do mundo, onde está sempre em destaque. Marca muitos golos e qualquer equipa do mundo gostava de contar com ele. Kaká é o melhor, mas Cristiano Ronaldo também o pode ser, assim como Messi.

Há quem diga que Kaká aprendeu muito com Rui Costa, aquando da sua passagem pelo AC Milan. Também partilha esta opinião?

Claro. Rui Costa era o dono do lugar, um senhor do futebol mundial. Um futebolista de enorme qualidade e que foi fundamental no AC Milan. O Kaká aprendeu mesmo muito com ele e eu via diariamente os ensinamentos do Rui. Foi um autêntico professor. Kaká tinha o talento, mas era preciso moldá-lo e aí os treinadores e o Rui Costa fizeram um excelente trabalho. Aliás, se Kaká é hoje o melhor futebolista do mundo muita da culpa é do Rui.

Disse que tem lido e assistido a alguns jogos de Rui Costa no Benfica. Acompanha o futebol português?

Só os jogos que passam na televisão. Sei que o FC Porto tem dominado nos últimos anos.

E pelo que já viu este ano do FC Porto na Liga dos Campeões, acha que a equipa pode sonhar com a presença na final?

Sim, não vejo porque não. Têm uma excelente equipa e ficaram à frente do Liverpool, que no ano passado foi à final. Têm grandes jogadores e uma equipa mesmo muito boa.

Abandonou a selecção italiana em 2004. Para o ano segue-se novo Europeu e a Itália surge como campeã mundial. São os favoritos ao título?

Somos uns dos favoritos, não podemos dizer que não. Mas há mais.

E quais são?

Na minha opinião, França, Alemanha, Portugal, Espanha e Holanda são fortíssimos candidatos.

Portugal faz mesmo parte desse lote?

Claro. Nos últimos anos estiveram sempre entre os quatro primeiros. Têm cada vez mais experiência e depois têm jogadores como Cristiano Ronaldo, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Ricardo Carvalho ou Jorge Andrade. Uma equipa com jogadores como estes só pode pensar em grandes feitos.

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