"Gosto de parecer forte e feminina ao mesmo tempo"

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Para interpretar Maggie Fitzgerald em Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, pelo qual está nomeada para o Óscar de Melhor Actriz, Hilary Swank ganhou quase dez quilos de massa muscular. Isto implicou quatro horas de treino diárias e acordar a meio da noite para beber clara de ovo. Mas o músculo emocional que ela ganhou e nos mostra é mais duro, mais forte.

Conhecer Swank em pessoa não é aquilo de que estamos à espera. Ela é mais delicada e mais graciosa, mais feminina e mais vulnerável do que a sua personagem.

"Depois de ter ganho o Óscar por Os Rapazes não Choram achei que ia receber propostas para muitos filmes de qualidade. Depois percebi que não há assim tantos bons filmes por aí. E se virmos os cinco melhores filmes deste ano, três deles não têm uma protagonista feminina. Resignei-me e pensei que iria talvez receber um desafio a cada 25 anos e, agora, apenas cinco anos depois, ele chegou. Belisco-me todos os dias."

Quando vemos Million Dollar Baby, achamos que, na verdade, mais ninguém podia ter feito o papel de Maggie, de tal forma ele lhe pertence. "Maggie foi a personagem que interpretei que está mais próxima de mim própria", confirma Swank.

origens. Ambas vieram de parques de caravanas para Los Angeles com o desejo de serem algo mais. Maggie queria ser pugilista, Hilary queria representar. Tanto Maggie como Hillary se caracterizam pelo seu optimismo absurdo. São duras e delicadas ao mesmo tempo. "Quando li pela primeira vez este papel todas as células do meu corpo quiseram fazer parte do do de Maggie. E quando me disseram que Clint Eastwood queria realizar e interpretar o filme, pensei 'Isso significa que vão querer outra actriz.' Mas encontrámo-nos, falámos sobre as personagens e das nossas origens respectivas, e, no final, Clint disse-me: 'Bom, é melhor começares a treinar.'"

Forma. Apesar de Swank sempre ter sido uma rapariga atlética, o boxe nunca tinha feito parte da sua vida. "Mas já tinha treinado assim. Fui às Olimpíadas juniores como nadadora. Costumava treinar quatro horas por dia, por isso estou habituada a consagrar tempo e dedicação ao treino", explica a actriz. E continua, enquanto espera pela lasanha que pediu "De cada vez que um pugilista entra no ringue está a arriscar a vida. Por isso, o meu treinador, Hector Roca, achou que eu devia saber como era ser atingida por um murro para que ficasse para sempre com essa recordação. Nos filmes vê-se muita gente a ser atingida e a recuar assim." E faz um grande e dramático gesto para trás com o pescoço . "Mas se formos atingidos de verdade o recuo é assim." Swank comprime o queixo e acende-se-lhe uma espécie de fogo nos olhos. E continua : "Queriam que eu ganhasse cinco quilos de massa muscular, mas não achei que fosse suficiente e aumentei quase o dobro."

Para ganhar esses dez quilos ela teve de dormir nove horas por noite, porque é durante o sono que os músculos crescem, quando se está relaxado e também porque estamos exaustos. "Mas não poderia ter ido tão longe sem comer. Assim, tinha que beber uns batidos de proteínas ou de clara de ovo a meio da noite", explica.

Então era quase como ter um bebé e levantar-se a meio da noite para o alimentar? "Sim, mas o bebé era eu, o Million Dollar Baby, certo?"

dificuldades. Alguma vez ela pensou durante a rodagem "Isto é demasiado duro, não vou conseguir fazer esta papel? "Bom, houve momentos assim, mas os meus treinadores diziam: 'Tu consegues, Hilary!' A fé deles em mim fazia-me ir em frente. Assim, limitava- -me a tapar o nariz e beber de oito a doze claras de ovo de uma vez e a treinar quatro a cinco horas por dia. Agora tenho amigos que são pugilistas, vou a combates e o boxe será sempre uma das minhas modalidades preferidas. Já perdi cerca de sete quilos dos dez que ganhei para o papel, mas gostava de manter os outros três. Gosto da ideia de poder parecer verdadeiramente feminina e forte ao mesmo tempo", explica Swank.

Pergunto-lhe se se preocupa que estes papéis com transformações físicas possam ter efeitos sérios na sua vida, no seu estado mental e físico. É que me lembro de ter lido que, semanas depois de desempenhar o papel da rapariga que se faz passar por rapaz em Os Rapazes não Choram, Swank se sentia perdida algures entre o homem e a mulher.

"Bom, houve um momento em que pensei que não queria ter o nariz partido para o resto da vida", responde. "Mas não sou de me preocupar muito. Limitei-me a pensar 'Que bom, estou a ganhar dez quilos de músculo, gosto deste aspecto forte.' As pessoas dizem-me que não faço papéis femininos. Mas para mim, Maggie é verdadeiramente feminina. Só que também é uma pugilista. Tudo depende da nossa definição de feminino. Eu diria que vem da força. Vem de sabermos o que queremos. Vem de nos sentirmos confortáveis no nosso próprio corpo. Acho que isso é bonito."

O que é que mudou em Hilary Swank desde a sua primeira subida ao palco para receber o Óscar de Melhor Actriz, há cinco anos? "Tornei-me numa mulher. A minha relação com o meu marido aprofundou-se. Acho que não tomo nada por garantido. E sinto-me mais feliz do que nunca. Tornei-me também mais consciente de que não há assim tantos papéis fantásticos por aí. Tenho uma produtora mas não é necessariamente para arranjar material para mim. Mas não há nada na minha vida que eu mudasse, porque estou realmente contente."

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