"É ridícula analogia entre muro de Berlim e da Cisjordânia"

O embaixador de Israel em Portugal considera que "é ridículo fazer uma analogia entre o muro de Berlim e o muro da Cisjordânia", argumentando que o primeiro teve "origem política" e o segundo é uma "barreira contra o terrorismo".
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"A barreira que existe entre nós e os palestinos é para evitar o terrorismo, não é um muro, é uma barreira de segurança, ponto", defendeu Ehud Gol, que falava segunda-feira à noite à entrada para um jantar-debate promovido pela Associação Comercial do Porto.

O diplomata israelita foi o orador convidado deste jantar, que decorreu no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, onde falou acerca das perspectivas de paz no Médio Oriente, nomeadamente entre o seu país e os palestinos.

"Quando for possível acabar com o terrorismo, não acho necessário continuar com essa barreira", acrescentou, numa breve conversa com a comunicação social.

O diplomata realçou que "a barreira tem tido bons resultados práticos", frisando depois que só no ano em que a polémica estrutura começou a ser construída, em 2002, morreram 450 israelitas devido a atentados terroristas.

"Um ano depois morreram apenas 400 com dez por cento da barreira já construída, dois anos perderam a vida apenas 300 e gradualmente foi possível minimizar e criar uma nova situação sem atentados dentro de Israel", historiou Gol.

O embaixador, que assumiu funções em Lisboa em Janeiro, defende que "a possibilidade, para nós, de salvar a vida a israelitas vale a pena".

"Não temos mortos neste momento e é melhor salvar vidas do que haver uma situação com terrorismo no centro de Telavive, no centro de Jerusalém, no centro de Haifa", insistiu, recusando sempre a designação de "muro" para a estrutura que as autoridades do seu país ergueram na fronteira com a Cisjordânia, em nome da segurança.

Ehud Gol, que já se faz entender bem em português, conclui referindo que "a barreira é reversível e podemos destruí-la em dois minutos, mas as vidas não as podemos recuperar".

Numa altura em que chamado processo de paz no Médio Oriente parece marcar passo, o embaixador sustenta que "é obrigatório fazer o máximo" para pacificar as relações entre israelitas e palestinos.

No jantar, Gol voltou a este tema, para recordar que há pelo mundo fora outros muros, como por exemplo em Ceuta e Melilla, dois enclaves espanhóis no Norte de África, construídos para conter a imigração ilegal para a União Europeia, sem que, porém, causem igual polémica.

Lembrou também o muro entre a Arábia Saudita e o Iémen, dois países árabes, que tem como objectivo, alegadamente, evitar o contrabando de armas e a circulação de membros da Al Qaeda.

Israel está disponível para "entrar num processo de paz" com os palestinos, "porque sem falar não é possível resolver todos os problemas que enfrentamos nesta parte do mundo".

O embaixador entende que "os Estados Unidos são sempre um país chave neste campo, porque são a única superpotência mundial" e disse esperar que, por isso, possam "influenciar não somente Israel mas também os países árabes para entrar em negociações e continuarmos um processo tão importante".

O presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, Mahmoud Abbas, declarou recentemente que só haverá paz se Israel parar com os colonatos mas Ehud Gol contrapõe que o líder palestiniano "já negociou com cinco ex-primeiros ministros de Israel, quando ainda havia todos os colonatos".

"Esse é um pretexto para não continuar com as negociações", conclui o diplomata israelita.

Os colonatos vão, por isso, continuar?  "Devemos falar, mas sempre com algumas condições", respondeu Gol.

O embaixador de Israel considera também que o programa nuclear iraniano "é uma ameaça" ao seu país, porque "o presidente do Irão, Ahmadinejad, continua a declarar que o seu objectivo é destruir Israel".

Para este problema político, Ehud Gol é de opinião que, "se for possível, é melhor encontrar uma solução através da diplomacia".

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