Teve bons professores ?.Tive alguns bons. Estudei no D. João de Castro, um dos poucos liceus que fecharam, mas em média tive bons professores. Uns tinham menos talento pedagógico mas havia outros que o tinham e conseguiam interessar. Interessar os alunos pela matéria faz muita diferença..Lembra-se de algum professor ou de alguma professora que se tenha destacado?.Sim. Alguns professores de Filosofia. Um deles - só me lembro do apelido: Roxo - tinha uma aura de criatividade que era atraente e fez-me interessar por Filosofia naquela época. Tive também bons professores de ciência mas os nomes confesso que já lá vão. Uma professora de Física e Química de que gostei muito e me fez melhor aluno....E na sua formação como músico, que professores o marcaram mais?.Tive três professores de piano nessa fase: o professor Nuno Vieira de Almeida foi importante, porque foi o primeiro professor que tive quando regressei ao piano, depois de uma interrupção. Mas os que acabaram por ter uma importância fundamental, até porque me acompanharam mais tempo, foram a professora Carla Seixas e o professor Jorge Moyano, ambos no Conservatório. O Nuno foi ainda na Academia dos Amadores de Música. E não me posso esquecer de que comecei a tocar piano aos cinco anos com uma professora que morava numa rua paralela à minha, que se chamava Dona Angelina. Ela foi fundamental para mim..Alguma vez reencontrou essa professora para lhe agradecer esse contributo?.Nunca. Ela já não era muito nova quando me começou a ensinar. Eu tinha cinco anos e ela 50. Agora tenho 52....Como vê a situação atual dos professores portugueses, em particular dos mais novos que não conseguem ingressar na profissão?.É tudo bastante preocupante. É das profissões mais nobres em que consigo pensar. Acho que quase todas as profissões são nobres, mas o papel de um professor é tão importante para a sociedade, para o crescimento das gerações que vão vindo, que logo aí há uma razão para eles serem muito bem tratados. Para sentirem que o seu trabalho é reconhecido e apoiado. Isso acho que é fundamental. A profissão em si já é difícil. Requer também talento, claro, para a educação. E o que tem acontecido ao longo dos anos é que não tem havido sinais fortes dos vários Governos para eles se sentirem reconhecidos. .E isso pode ter reflexos no trabalho dos professores nas escolas?.Isso e a precariedade que me dá a sensação que existe de uma maneira geral em relação aos professores, a dificuldade em estabelecerem-se num sítio. Tudo isso leva a que o objetivo primordial, educar o melhor possível os nossos filhos, sobrinhos e amigos, piore a qualidade. Um país sem educação, em frente nenhuma é realmente bem-sucedido. A educação leva a que, em todas as vertentes de uma sociedade, as coisas funcionem bem: temos melhores advogados, médicos, professores, músicos. E, puxando a brasa à minha sardinha, se calhar também um público que se interessa por uma maior variedade de áreas na cultura..Os cortes na Educação podem sair caros no futuro?.Não há dúvida nenhuma: sairão seguramente. Acho que nem faz sentido dizer que não vamos pagar cara a fatura.