"Cavaco deveria ter convocado antes da ruptura"

Manuel Alegre, membro do Conselho de Estado e candidato à Presidência da República<br />
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Que análise faz à ruptura na negociação entre PSD e Governo?

A mim não me surpreende muito. Sei que o Presidente da República convocou o Conselho de Estado, mas eu já tinha avisado... Primeiro, [Cavaco Silva] convocou os partidos depois de eles se terem desentendido politicamente, quando deveria tê-lo feito antes. Agora, convocou o Conselho de Estado depois de um desentendimento público. Eu vou e tentarei contribuir com sentido de Estado.

Enquanto candidato, que mensagem deixa aos portugueses?

A minha mensagem é que já dobrámos muito o cabo das Tormentas e não podemos permitir que outros tomem conta do nosso destino. Devemos tomá-lo nas nossas mãos e não abdicar da autonomia de decisão nacional, não deixar que ponham em causa o conteúdo social da nossa democracia dos valores do 25 de Abril.

No actual contexto, o que é que pode fazer o povo? Manifestar-se?

O povo é soberano. Pode votar noutro presidente para a Presidência da República, mas também manifestar-se. A vida política e democrática faz-se nas urnas, mas também na rua.

Como é que se sai desta crise?

Temos um problema grave de endividamento. E isso não se resolve só com os cortes do défice. Só falamos em finanças e ninguém fala em economia. Enquanto isso não se resolver, vamos ter sempre uma solução de défice. Na actual situação, e dada a posição da Alemanha, neste directório Sarkozy/Merkel, acho que vamos por muito mau caminho. As políticas de austeridade levam à recessão e a recessão leva à recessão. Portanto, não saímos [da crise].

Acha que o Governo deveria ter apresentado outro Orçamento?

Portugal tem dois problemas sobre os quais deve reflectir. Um é interno e tem a ver com a nossa economia. O outro é sobre a Europa. Aceitamos ou não que se esteja a subverter os tratados, nomeadamente o Tratado de Lisboa? Qual é a orientação? É a Alemanha que manda na Europa ou o Banco Central Europeu? Este é um problema nacional. O outro é o da qualidade da democracia e da necessidade de um novo modelo de desenvolvimento. A esquerda europeia tem de renascer. A direita económica e política europeia está a aproveitar a crise para pôr em causa direitos sociais que custaram a luta de gerações.

É o preço da adesão?

A adesão à Europa não significa a dissolução nacional. Fico preocupado quando Cavaco Silva diz que não vale a pena atacar os banqueiros e FMI porque não nos ligam nada. As agências de rating estão ao serviço dos predadores, dos abutres. É preciso haver a regulação dos mercados financeiros.

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