2022. O fim da pandemia foi adiado

As dores constantes no pescoço, as insónias de que cada vez mais pessoas se queixam, o regresso às aulas por Zoom e a paciência por um fio denunciam aquilo que era impensável no início: estamos há quase um ano com as vidas suspensas.
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O caos nos programas de vacinação assoma-se por todo o lado e as filas de ambulâncias à porta de hospitais não são exclusivas de nenhum país. As novas variantes do coronavírus que causa a covid-19 são mais contagiosas, o que ajuda a explicar porque é que vários meses após a aprovação de múltiplas vacinas estamos no pior momento de sempre da pandemia.

Meus senhores, creio que chegou a altura de assumir que viveremos nesta miséria até 2022. Possivelmente haverá algum regresso à normalidade por altura do Verão, quando mais segmentos da população estiverem vacinados, mas esses passos em frente serão curtos e lentos. Temo que 2021 seja mais um ano perdido para quase tudo o que queríamos voltar a fazer.

É isso mesmo que transparece nos cancelamentos de eventos que estavam previstos para os próximos meses, quando se julgava que a situação estaria sob controlo. O festival Coachella voltou a ser cancelado, pelo segundo ano consecutivo, tal como o festival de Glastonbury, e duvido que alguma coisa de monta no panorama musical aconteça este ano. O enorme RodeoHouston 2021 no Texas, que tinha sido remarcado para Maio, foi definitivamente cancelado.

O maior evento de retalho, NRF Big Show, cancelou o evento ao vivo que estava marcado para Junho em Nova Iorque e vai organizar uma conferência novamente virtual. A feira de videojogos e entretenimento de Los Angeles, E3, não regressará ao vivo em Junho e avançará para uma versão virtual. Os teatros da Broadway continuarão encerrados até pelo menos ao início do Verão. Os exemplos repetem-se por todo o lado, ultrapassando as fronteiras internacionais - que estão, elas próprias, limitadas na circulação de viajantes.

Parece-me claro que o fim da pandemia foi adiado e que as previsões mais catastróficas feitas no início de tudo isto estavam certas. Não queríamos acreditar que as nossas vidas ficariam em limbo durante dois anos, mas vejo agora que essa é até uma previsão optimista. Poderemos celebrar se estivermos livres disto no início de 2022 e não ainda mais adiante.

Resta saber como aguentaremos até lá preservando a sanidade mental e um mínimo de saúde física. Já não há arco-íris nem frases feitas nem tachos batidos às janelas. Já não há festas virtuais nem maratonas de Netflix que sirvam para alguma coisa. Já não há sequer tempo ou latitude mental para discussões de Facebook com os negacionistas da pandemia e os zombadores de máscaras.

Isto é tudo mau demais, culpa de todos e de ninguém, um calvário colectivo que teremos de percorrer até ao outro lado da pandemia. A beber café para nos mantermos acordados durante o dia e a tomar comprimidos para podermos adormecer à noite.

Perceber que isto não vai terminar tão cedo é desanimador, mas também servirá para nos prepararmos ao que ainda aí vem e continuarmos a ter os mesmos cuidados que tivemos até agora. Na esperança de que este início falhado de década dê lugar a uma segunda versão dos Loucos Anos Vinte, que nunca como agora compreendi tão bem.

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