Sven-Göran Eriksson morre aos 76 anos. "Tive uma vida boa. Obrigado por tudo"
Gerardo Santos / Global Imagens

Sven-Göran Eriksson morre aos 76 anos. "Tive uma vida boa. Obrigado por tudo"

O antigo treinador do Benfica sofria de cancro no pâncreas. Foi alvo de várias homenagens pelos seus antigos clubes, uma delas no Estádio da Luz. Num documentário teve a oportunidade de deixar mensagem de despedida.
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Sven-Göran Eriksson morreu esta segunda-feira aos 76 anos após uma longa batalha contra o cancro no pâncreas.

A notícia foi dada pela família do antigo treinador do Benfica, que em janeiro deste ano anunciou ter a doença e que lhe restava cerca de um ano de vida.

Os encarnados já lamentaram a morte do antigo treinador através das redes sociais e numa mensagem no site oficial recordam que "a marca de Eriksson no futebol português foi a de um revolucionário, de um treinador à frente no seu tempo".

"No plano social, destacou-se sempre pela elegância, educação e urbanidade. Um treinador e um homem verdadeiramente à Benfica. Sven-Göran Eriksson, um nome que une várias gerações de benfiquistas que, juntos, nunca permitirão que seja esquecido", acrescenta o Benfica.

Depois disso, foi alvo de diversas homenagens dos clubes que treinou, tendo inclusive estado no Estádio da Luz a 11 de abril, num jogo Benfica-Marselha para a Liga Europa, tendo sido alvo de uma homenagem no relvado junto de antigos jogadores que treinou nas duas passagens pelo clube da Luz.

Eriksson nasceu na localidade sueca de Sunne, a 5 de fevereiro de 1948. E foi através do futebol que se tornou mundialmente famoso. E não foi pelos dotes de futebolista, mas sim por ser um treinador de excelência, que começou a dar nas vistas em 1982 quando levou o IFK Gotemburgo à conquista da Taça UEFA.

Tinha na altura apenas 34 anos e esse êxito fez com que o então presidente do Benfica, Fernando Martins, o fosse contratar. Chegou rodeado de dúvidas, afinal havia jogadores no plantel que eram mais velhos que o sueco.

Só que depressa essas dúvidas se dissparam. Eriksson revolucionou o futebol do Benfica e do futebol português. Em dois anos venceu dois campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal e devolveu o clube às finais europeias, com o apuramento para final da Taça UEFA, então perdida para o Anderlecht.

Eriksson rumou depois a Itália, onde na altura se disputava o principal campeonato europeu, para orientar a AS Roma primeiro e depois a Fiorentina.

Com apenas uma Taça de Itália conquistada ao serviço dos romanos, Eriksson voltou à Luz em 1990 para voltar a ganhar troféus. E em treês épocas voltou a ser campeão nacional e levou o Benfica à final da Taça dos Campeões, perdida em Viena, frente ao AC Milan, por 0-1.

Voltou a Itália em 1992 para treinar a Sampdoria durante cinco anos e a Lazio durante quatro épocas. Se em Génova venceu uma taça italiana, na Lazio montou uma super-equipa, da qual faziam parte os portugueses Sérgio Conceição e Fernando Couto, mas também Roberto Mancini, Pavel Nedved, Diego Simeone, Sinisa Mihajlovic, entre outros.

Com Eriksson, a Lazio foi campeã italiana 26 anos depois, um êxito que o clube não voltou a repetir. Além disso, conquistou duas taças de Itália, duas Supertaças italianas, uma Taça das Taças e uma Supertaça da UEFA.

Em 2001, tornou-se no primeiro estrangeiro a treinar a seleção inglesa, onde esteve seis anos. Não conseguiu títulos, mas recebeu o reconhecimento e admiração dos ingleses. E a prova disso é que a maioria dos clubes e das instituições britânicas deixaram uma mensagem de pesar sobre a morte do antigo treinador sueco, destacando-se ainda o príncipe de Gales, que nas redes sociais escreveu:  "É triste saber do falecimento de Sven-Göran Eriksson. Encontrei-o várias vezes como selecionador da Inglaterra e fiquei sempre impressionado com seu carisma e paixão pelo jogo. Os meus pensamentos estão com sua família e amigos. Um verdadeiro cavalheiro do jogo."

A carreira de Eriksson entrou depois disso numa curva descendente, tendo ainda treinado do Manchester City, seleões do México e da Costa do Marfim, Notts County, Leicester e BEC Tero Sasana (Tailândia), seguindo depois para o futebol chinês onde orientou Guangzhou City, Guangzhou R&F, Shanghai SIPG e Shenzhen. O seu último trabalho como treinador foi a seleção das Filipinas em 2019.

Antes de anunciar que sofria de um cancro terminal, Erikson trabalhava como diretor desportivo dos suecos do Karlstad, que abandonou em fevereiro de 2023 por causa da doença.

Num documentário que foi lançado recentemente na plataforma de streaming Amazon Prime, denominado "Sven", o sueco despede-se dizendo: "Tive uma vida boa. Acho que todos nós temos medo do dia em que morreremos, mas a vida também é sobre a morte. Todos temos de aprender a aceitar a realidade como ela é. Espero que no final as pessoas digam, 'sim, ele era um bom homem', mas nem todos dirão isso. Espero que se lembrem de mim como alguém positivo que tentava fazer tudo o que podia."

E a terminar disse: "Não se desculpem, sorriam. Obrigado por tudo, treinadores, jogadores, adeptos. Foi fantástico. Cuidem-se e cuidem da vida. E vivam-na. Adeus."

Fernando Gomes: "O futebol português está grato a um verdadeiro cavalheiro do futebol"

Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, disse em comunicado que "foi com grande tristeza" que recebeu a notícia da morte de Eriksson, "um treinador profundamente marcante para o futebol português".

"A sua recente passagem pelo nosso País, onde foi homenageado pelo clube que por duas vezes representou em Portugal, o SL Benfica, confirmou o reconhecimento e admiração que toda a família do futebol português teve por ele", acrescentou o líder federativo, assumindo que foi um homem "à frente do seu tempo".

"Além das suas qualidades e competência como treinador, Eriksson foi sempre uma pessoa amável, amiga e grata. O futebol português também está grato a um verdadeiro cavalheiro do futebol. Despediu-se da vida com a grandeza com que sempre marcou a sua postura."

O Sporting também emitiu nas redes sociais uma mensagem de pesar de Eriksson, que destaca como "grande figura do futebol mundial".

O FC Porto também assinalou a morte de Eriksson nas redes sociais, com a mensagem: "É sempre uma honra defrontar treinadores deste gabarito."

A UEFA também já assinalou o desaparecimento de Eriksson, que diz ter sido "uma figura adorada" do futebol .

Já a Liga Portugal assinalou o momento com a frase: "As Lendas são eternas. Obrigado por tudo o que deu ao Futebol."

Presidente da FIFA homenageia "verdadeiro embaixador do futebol"

O presidente da FIFA, Gianni Infantino, mostrou-se hoje "profundamente entristecido" pela morte do sueco Sven-Goran Eriksson, aos 76 anos, lembrando-o como um "inovador e verdadeiro embaixador" do futebol que praticou, antes de ser treinador.

"Estou profundamente entristecido ao saber da morte de Sven-Goran Eriksson. Como treinador, foi um grande inovador e um verdadeiro embaixador do nosso jogo bonito, conquistando troféus nacionais em três países europeus diferentes, além de duas conquistas continentais, com o Gotemburgo e a Lazio", pode ler-se numa declaração hoje divulgada.

Infantino, citado na conta na rede social X do organismo de cúpula do futebol mundial, lembrou a longa carreira e a "influência global", não só como selecionador de Inglaterra, México, Costa do Marfim e Filipinas, como nos clubes um pouco por todo o mundo, incluindo o Benfica.

"Como pessoa do futebol, liderou com entusiasmo e um sorriso. Em nome da FIFA e da nossa comunidade global, envio condolências à família e amigos neste momento difícil", acrescentou o dirigente.

Toni evoca despedida com grandeza de figura admirável

O antigo treinador do Benfica Sven-Göran Eriksson, que morreu hoje, aos 76 anos, despediu-se com grandeza da vida, reconheceu o ex-futebolista internacional português e técnico Toni, adjunto do sueco nas duas passagens pela Luz.

"Tudo o que lhe foi acontecendo [com sucessivas homenagens públicas nos últimos meses] granjeou o respeito e a admiração de todos. Ele tem várias mensagens a dizer 'vivam a vida, sejam felizes e não fiquem tristes quando eu partir'. É a grandeza de um ser humano admirável", enquadrou, em declarações à agência Lusa.

Sven-Göran Eriksson morreu hoje em casa, aos 76 anos, depois de uma luta contra um cancro no pâncreas, informou a família do antigo treinador, em comunicado.

"Era uma morte anunciada. Aliás, ele teve a força e a coragem de o dizer há uns meses, deixando-nos destroçados. É um dia de profunda tristeza. Partiu um bocado de mim, após já terem partido Artur Jorge, Rui Rodrigues e Pietra. Tem sido um ano marcante pela partida de gente com quem partilhei alegrias e tristezas", notou.

Vencedor da Taça UEFA ao serviço do Gotemburgo, em 1981/82, o sueco conquistou três campeonatos (1982/83, 1983/84 e 1990/91), uma Taça de Portugal (1982/83) e uma Supertaça Cândido de Oliveira (1989/90) nas duas passagens pelo Benfica, entre 1982 e 1984 e de 1989 a 1992, sempre coadjuvado pelo ex-médio 'encarnado' Toni.

"Encaro esta partida de forma muito particular, porque tínhamos uma amizade com mais de 40 anos. Ele ganhou o respeito e a admiração, não só dos benfiquistas, mas de todos os quadrantes, pela sua forma de estar no desporto e no futebol. Deixa esse legado, além daquela força e coragem em anunciar a sua morte", evocou.

Além de Toni, futebolistas como Michael Manniche, Rui Águas, César Brito, Humberto Coelho, Shéu Han, Zoran Filipovic, Valido, António Veloso, João Alves, Vítor Paneira, Bastos Lopes, Valdo, Diamantino Miranda, Carlos Manuel ou Álvaro Magalhães prestaram um corredor de honra ao ex-treinador, entre aplausos e cumprimentos.

"Essa jornada de abril vivida no Estádio da Luz é de uma carga emocional muito forte. Foi a oportunidade para se despedir dos adeptos e de antigos jogadores e colaboradores. Nós jantámos na véspera do jogo com o Marselha, em conjunto com os filhos dele, o autor da sua biografia e o Humberto Coelho. Estivemos à mesa durante mais de duas horas, mas não falámos em doença. Falámos da vida, de futebol e das peripécias vividas nos anos em que passou pelo Benfica", partilhou Toni.

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