Alguns dos principais desafios da Europa vêm do passado, são desafios adiados, que estão congelados: a união económica, a união monetária, a união digital, a união bancária. Devemos somar a estes desafios o problema das migrações, dos refugiados, a forma como temos de lidar com o terrorismo e, portanto, a questão da segurança - segurança externa e circulação interna. Acrescentemos igualmente toda a política externa - o relacionamento com a nova administração norte-americana e com a China. Nos outros continentes, a posição perante o Mercosul, perante o continente africano e a política no Próximo Médio Oriente..Cá dentro, irão pesar as relações fundamentais entre si das instituições europeias e o desafio do alargamento da base de apoio da Europa, que se está a encurtar, num momento em que um só partido, o PPE, vai ficar à frente de todas as instituições políticas, o que não aconteceu nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, temos o desafio da pedagogia europeia, do relacionamento com as opiniões públicas, do tom crítico dessas opiniões públicas, da dificuldade de fazer passar perante elas a atual situação da Europa e o que é que essa Europa quer para o futuro..E depois existem os desafios que resultam do que aconteceu em 2016. São os desafios eleitorais, que não se sabe se não começarão pela Itália, mas que certamente passarão pelos Países Baixos, depois pela França e depois pela Alemanha. E, pelo meio, o começo expectável das negociações com o Reino Unido..Um ano com muito fatores imponderáveis.Teremos um ano com muitas imponderabilidades, muitas incógnitas e, por isso, separo aquilo que desejo daquilo que é possível antever. Sendo certo que é difícil afirmar uma antevisão, porque não nos podemos substituir ao juízo, em larga medida imprevisível, dos eleitorados de três ou quatro países fundadores das comunidades europeias. Não sabemos em que sentido é que vão esses juízos - se vão no sentido eurocético ou muito crítico em relação à linha europeia tradicional ou mesmo à atual, ou se vão para uma fórmula mista, ou se se dividem, conforme os países. Não sabemos..Uma Europa de coragem.Eu desejo, porque sou pró-europeísta e considero muito importante para Portugal a integração na União Europeia, que o relacionamento com a nova administração norte-americana, quer no plano comercial quer no plano político, seja bom, pelo menos que não seja mau. Desejo que o relacionamento com a Federação Russa, por um lado, e com a China, por outro - e já não falo nos demais continentes -, permita criar condições de paz ou de caminho para a paz em áreas vizinhas da União Europeia..Desejo que o relacionamento com o continente africano permita diminuir os riscos de migrações que pressionam o Norte de África e, portanto, o Mediterrâneo e a Europa. Desejo que as eleições todas se traduzam num reforço e não num enfraquecimento do ideal europeu; que as instituições europeias saibam alargar progressivamente a sua base de apoio, e não reduzi-la. Desejo, portanto, que seja possível que o roteiro anunciado em Bratislava exista e que seja um roteiro de futuro, que seja um roteiro corajoso..A Europa precisa de coragem à entrada deste novo ciclo..Finalmente, desejo que seja possível chegar a uma definição com o Reino Unido, que seja boa para a Europa, em espírito de unidade, sem iniciativas unilaterais, que haja a construção de um acordo transitório que permita, com tempo, olhar para a questão de médio prazo. É preciso que não haja, também neste dossiê, ruído que seja negativo para a Europa..[citacao:Muitos investidores estão à espera de saber como vão ser os atos eleitorais para saber como vai ser a Europa].Tudo tem a ver com tudo.O problema é que tudo tem a ver com tudo. Na verdade, só o crescimento económico e a estabilidade financeira é que permitem uma segurança das opiniões públicas, uma segurança dos eleitorados e, portanto, opções racionais e de aposta na Europa por parte de vários países. Mas, por outro lado, também é verdade que a estabilidade financeira e o crescimento económico dependem dessas definições políticas. E esse é que é o problema - é que os mercados estão à espera para saber como é, os investidores externos estão à espera para saber como é, muitos investidores europeus estão à espera desses atos eleitorais para saber como vai ser a Europa. E, como tudo tem a ver com tudo, este é um período, de facto, de grande incógnita. De grande esperança, por um lado, mas, ao mesmo tempo, de grande incógnita e, portanto, de grande imponderabilidade.