Emmanuel Macron traz esperança à Europa e à zona euro

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Este foi o primeiro dia realmente bom para a zona euro desde o início da crise financeira no final de 2009. A vitória de Emmanuel Macron traz esperança à Europa. A França enfrentou a escolha política mais marcante mas também a mais honesta que qualquer grande país europeu teve de enfrentar em muitas décadas: entre ficar na zona euro e fazer reformas ou sair. A escolha habitual de deixar andar não estava em cima da mesa. Estas eleições não foram sobre o futuro da democracia. Tratava-se do futuro da França na Europa e do futuro da própria Europa. Uma pergunta clara foi colocada aos franceses. Eles deram uma resposta clara. Não consigo pensar em nenhum outro político de qualquer país da UE que tenha conseguido ganhar umas eleições com uma agenda explícita para a reforma da zona euro. Não há garantias de que Macron venha a ter êxito e é, sem dúvida, demasiado fácil elaborar cenários em que falhará. Mas se o cenário otimista para a zona euro vier a vencer, é assim que ele tem de começar, com um líder de um grande país a ganhar um mandato político para a mudança.

A conjuntura joga a seu favor. Ele não estará em condições de pressionar para a realização das reformas da zona euro antes de um ano. Os alemães têm eleições em setembro, os italianos vão votar no início de 2018. Esse atraso forçado dá-- lhe um ano para demonstrar que as suas propostas de reforma interna são para levar a sério.

É uma noção comum, embora errada, a de que a França é uma economia doente. A França e a Alemanha tiveram níveis quase idênticos de produtividade do trabalho nos últimos 50 anos. Ambos os países conseguiram um desempenho económico semelhante desde a introdução do euro, com a Alemanha a sair-se um pouco pior do que a França antes da crise financeira e um pouco melhor desde então. A França não é como a Itália, que não conseguiu gerar muito crescimento da produtividade desde que entrou na zona euro. É por isso que a argumentação a favor da saída da zona euro, tal como foi apresentada por Marine Le Pen, não foi tão forte em França como será em Itália.

A França, no entanto, tem violado as regras orçamentais da UE. Ela tem dívidas de 100% do produto interno bruto, enquanto a Alemanha está a caminho de reduzir o seu rácio dívida/PIB para 60% até ao final desta década, o teto de dívida oficial, embora muito ignorado, na zona euro. Para que Emmanuel Macron tenha alguma hipótese de persuadir Berlim das virtudes de um orçamento comum da zona euro e de um ministro das Finanças comum, tal como estabelecido no seu manifesto, terá de demonstrar que está seriamente comprometido com o cumprimento das regras do Tratado.

Felizmente para ele, o momento é bom. A economia da zona euro está num ligeiro aumento cíclico. Não há melhor momento para consolidar do que agora. O seu programa estabeleceu um aperto orçamental moderadamente forte de 60 mil milhões de euros em cinco anos. A uma taxa média anual de 12 mil milhões de euros, isto representa 0,5% a 0,6% da produção económica do ano passado.

A Alemanha está feliz por Macron ter vencido as eleições, mas praticamente ninguém em Berlim fala sobre a sua ideia de um orçamento e um ministro das Finanças comuns para a zona euro. O SPD é mais flexível do que a CDU, mas, ao contrário do Sr. Macron, também não está a fazer campanha a favor das políticas orçamentais comuns. Em breve, Berlim descobrirá que Macron está a exigir mudanças que o poder político alemão excluiu explicitamente. Pelo menos um dos lados acabará a engolir as suas palavras, ou ambos, se chegarem a um acordo de compromisso.

A eleição de Macron é um primeiro passo extremamente importante para a mudança em França e na zona euro. Mas, por enquanto, não é mais do que isso.

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