Na minha vida profissional, Marcelo Rebelo de Sousa foi dos poucos políticos que nunca se intimidou com as perguntas que mandei fazer-lhe..Quando fui chefe de redação de A Capital, e Marcelo tentava montar uma nova Aliança Democrática com Paulo Portas, passei a vida a pedir à redação para confrontá-lo com frases que, nessa altura, o ainda recentemente antigo diretor de O Independente escrevera nesse jornal contra o PSD..Marcelo respondeu quase sempre à provocação e sempre, sempre simpático... mas, caramba, deu-nos muita conversa esperta e nunca um título "assassino" para a nova AD..Apliquei, depois, uma ideia da diretora do jornal, Helena Sanches Osório, que fora colega de Portas n"O Independente: todos os dias, durante semanas e semanas, a página inicial da secção política de A Capital abriu com uma dessas frases mortais escritas por Paulo Portas..Os jornalistas que cobriam o PSD vinham dizer-me que Marcelo Rebelo de Sousa achava a provocação divertidíssima. Em contrapartida, os que cobriam o lado do CDS relatavam-me verdadeiros ataques de nervos causados pelo desgaste da brincadeira..A nova AD borregou, oficiosamente por causa de uma zanga pueril quando Portas relatou, ao falar numa entrevista do seu tempo de jornalista, ter o professor entregado uma falsa cacha ao jornal: uma ementa com uma vichyssoise servida numa reunião de um Conselho de Estado que, afinal, nunca acontecera. O estado de fragilidade daquela relação política era grande e Marcelo não suportou que o acusassem de desonestidade....Quando fui diretor do jornal 24 horas mandei frequentemente analisar a coerência das declarações de impostos dos nossos políticos entregues no Tribunal de Contas, de acesso público. O jornalista Hugo Soares falou com Marcelo sobre isso. Tenho a dizer que nunca vi um político tão transparente, tão colaborante e tão liso nessa matéria: ele dizia quanto ganhava a dar aulas, a dar pareceres, a comentar na TV ou quanto pagava de renda de casa. Ele respondia mesmo aquilo que não perguntávamos!....Não vou votar Marcelo nas presidenciais, pois acho que há melhores opções. Mas apesar de ele ontem, na SIC, ter ameaçado ser um presidente "hiperativo" (o que seria uma chatice para o país, embora ótimo para os jornais) e ter caído no pecado da hipocrisia, ao falar na sua campanha financeiramente modesta (depois de se ter promovido na televisão, todos os domingos, para três ou quatro milhões de pessoas, precisaria de cartazes para quê?...), a verdade é que, daquilo que observei nestes anos todos, o centro muito dificilmente teria melhor caráter, moral e político, para apresentar a sufrágio.