A criação de um banco mau para receber 25 mil a 30 mil milhões de euros (contas por baixo) de crédito em incumprimento ou em risco, de toda a banca portuguesa, e o reforço do capital público na Caixa Geral de Depósitos (CGD) de quatro mil milhões de euros, assustam qualquer um. Eu, um dos assustados, mais do que a sensatez ou viabilidade das duas medidas, receio a quase certeza de elas virem a servir para prolongar o ruinoso statu quo do setor. Penso em alguns números....A CGD financiou veículos financeiros (que, no fundo, formaram uma espécie de banco mau) para tentar menorizar o desastre fraudulento do BPN. O banco público tem aí metidos 3,5 mil milhões de euros e poucos acreditam que não seja o Estado a acabar por pagar essa dívida, quase do tamanho do aumento de capital em discussão..O banco mau do BES fechou 2015 com prejuízos de 2,3 mil milhões de euros e soma um capital negativo de 5,3 mil milhões. Terá, em princípio, de fechar atividade em agosto e duvido que isto não acabe numa fatura ao contribuinte....Lembro-me da cândida perplexidade do Banco de Portugal quando constatou ter a banca distribuído aos acionistas dois mil milhões de euros em dividendos, em plena crise financeira, de 2008 a 2010, apesar de acumular imparidades de 30 a 40 mil milhões, desde o primeiro desses anos até 2014..E também registei a impotência do mesmo Banco de Portugal, primeiro a defender em 2011 a recapitalização de oito bancos em 50 mil milhões de euros e a constatar, depois, que até finais de 2014 só se realizaram 18 mil milhões dos quais 12 mil milhões com garantias ou empréstimos do Estado, pelo que poucos acionistas arriscaram verdadeiramente dinheiro seu..E também percebo a dificuldade da banca: em 2000, por cada euro de depósito a banca emprestava 1,21 euros - rácio, aliás, recomendado mais tarde pela troika depois de, nos anos de loucura no crédito, o valor ter subido até 1,5 euros. Hoje a banca, em média, empresta apenas 1,01 euros. Porquê? Porque não tem suficientes pedidos de crédito de famílias e empresas sustentados num mínimo de garantias razoáveis... É a economia de austeridade, estúpido! Ah!, entretanto, há 70 mil milhões de euros portugueses metidos em paraísos fiscais....O banco mau e o aumento de capital na CGD, por si só, não mexem em nenhum paradigma da ruína nacional: impedir que prejuízos privados acabem a ser pagos pelo Estado; conter lucros abusivos de acionistas que investem pouco mas controlam livremente, em proveito próprio, enormes quantias de dinheiro; criar condições para empresas e famílias apresentarem projetos viáveis à banca; penalizar seriamente o acesso aos paraísos fiscais..O banco mau e a CGD assustam mas, na verdade, são nada.